BEM-VINDO! LIVROS, APOSTILAS E FOLHETOS GRÁTIS VACINE-SE CONTRA A EPIDEMIA DAS SEITAS SALVE, IMPRIMA, ENCADERNE EM ESPIRAL E LEIA Quem fala do que não entende, é preconceituoso; e quem, por medo, silencia diante do erro, é covarde. Pr. Joel Santana
quarta-feira, 24 de junho de 2015
terça-feira, 23 de junho de 2015
sábado, 20 de junho de 2015
O CULTO A MARIA à Luz da Bíblia e da História
Pr. Joel Santana
SUMÁRIO
O presente livro - como se pode inferir de seu título, somado ao fato de que
tem por autor um Pastor evangélico - exibe o conceito protestante sobre o
marianismo (isto é, o culto a Maria), bem como emite o parecer dos católicos a
respeito do tratamento que o protestantismo dispensa à mãe de Jesus.
Demonstra-se neste tomo que, segundo os evangélicos, o culto que a Igreja
Católica presta a Maria não é uma prática legítima, que tenha sido ordenada por
Cristo e praticada pelos apóstolos, mas sim, uma abominável inovação (embora
milenar), cuja extirpação se faz imprescindível, sob pena de não qualificar-se
como Igreja de Cristo, ou de descaracterizar-se como tal, qualquer instituição
que ouse fazê-lo. E o faz recorrendo à literatura da Igreja Católica, às obras
protestantes, à História Universal, etc. Sem falar das citações de segunda mão,
respaldamos-nos em 60 obras, e mais de 50 autores, como se vê, consultando as
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS que jazem nas últimas páginas deste texto. Salta à
vista, então, que também recorremos à Bíblia, já que a mesma é fonte
histórica - pois historia o cristianismo em sua gênese - e é base comum aos
dois segmentos cristãos em questão, cujos distintos tratos para com Maria, após
serem apreciados por este autor, passam a ser expostos neste modesto compêndio
que o respeitável leitor me confere a indulgente honra de apreciar.
Apesar das inúmeras controvérsias entre o catolicismo e o protestantismo sobre
Maria, há algo em comum nestas duas confissões religiosas, acerca da mãe de
Jesus. Por exemplo, tais quais os católicos, os protestantes não negam que
Maria, sendo virgem, concebeu pelo Espírito Santo e deu à luz Jesus. Todos
(católicos e protestantes) temos para com ela inestimável apreço. Que ela está
no paraíso celestial, que é bem-aventurada, bendita entre as mulheres, etc.,
não há divergência. Mas os católicos inferem que os evangélicos estão aquém do
devido para com Maria. Alguns clérigos da Igreja Católica asseveram que a
odiamos e lhe denegrimos. Por outro lado, os evangélicos sustentam que o
marianismo extrapola o limite bíblico, é idolatria, e, portanto, pecado para a
morte, isto é, uma prática que priva da comunhão com Deus e conduz ao inferno.
Entre outras razões, o porquê dessa polêmica reside no fato de o catolicismo,
diferentemente do protestantismo, sustentar a respeito de Maria o que se segue:
a) Recorrendo a ela, somos mais depressa atendidos e salvos, do que recorrendo
a Jesus; b) enquanto Jesus tem por ofício julgar e punir, ela recebeu do Pai o
ofício de nos socorrer e nos aliviar, ou seja, nos salvar; c) ela morreu para
nos salvar, já ressuscitou dentre os mortos, e foi assunta ao céu em corpo e
alma, onde nos advogada junto ao justo Juiz - Jesus; d) depois de assunta ao
céu, reapareceu a muitas pessoas em diferentes lugares em derredor do mundo; e)
algumas de suas estátuas se revelaram fenomenais, chegando a chorar, sangrar,
sorrir, exalar fragrância, e até falar; f) que o seu coração é o caminho que
nos conduz a Deus; g) Outras crenças: Ela seria: Imaculada; Mãe de Deus; Nossa
Senhora; Rainha do Universo; nossa única Advogada; nosso único Refúgio; nossa
Auxiliadora e Protetora; Mediadora entre Deus e os homens; credora de Deus (por
tê-lo tido no ventre, o dado à luz, amamentado...); digna de especial e singular
culto (culto este, visto como intrínseco ao cristianismo); Co-redentora da
humanidade; cheia de graça; perpetuamente virgem; superior a todas as demais
criaturas (homens, anjos, arcanjos, querubins, serafins, etc.); a porta da
salvação... Esta polêmica merece ser apreciada e sondada, e o fazemos aqui. Do
começo ao fim deste tratado, em todos os seus capítulos e subcapítulos, virão à
baila as diferenças doutrinárias entre católicos e protestantes no que concerne
à pessoa da mãe de Jesus. Sim, discorremos aqui sobre o culto que à Maria
tributam os católicos, culto este conhecido pelos nomes de marianismo e hiperdulia.
Todos sabemos que não há verdades conflitantes entre si. Ninguém ignora que
quando há duas ou mais opiniões diferentes sobre um mesmo assunto, que no
mínimo uma é inexata. E, como ninguém se deleita em ser vítima do engano,
certamente este trabalho vai interessar tanto aos católicos, quanto aos
protestantes, já que escrutina com perspicácia, não se prendendo, pois, a uma
crença cega; antes, submete tudo ao crivo da pesquisa científica, permitindo
que se extraia daí conclusões razoáveis, capazes de serem confirmadas por todos
os pensantes. E, sendo assim, deve interessar aos intelectuais (antropólogos,
sociólogos, filósofos, psicólogos, psicanalistas, teólogos, historiadores,
etc.) que, numa atitude filosófica se debruçam sobre as questões religiosas.
Pesquisar no intuito de obter e fornecer informações exatas (logo, vazias de
preconceito) sobre o tema ora em lide, para que meus leitores vejam por si
mesmos de que lado está a verdade, é o que empreendi quando me lancei às
pesquisas que me renderam o presente opúsculo; e crendo que atingi este alvo
nestas páginas, exponho-as ao juízo de meus leitores. Estes, creio eu,
certamente verão que minha pronunciação é imparcial e despida de preconceito;
sendo, por isso mesmo, capaz de satisfazer às exigências do bom senso. Que Deus
"sopre" no "nariz" deste singelo opúsculo e lhe dê vida,
para que o mesmo seja uma ofensiva do Céu aos redutos de Satanás, arrebatando
de lá os reféns do engano religioso! Que destas humildes páginas o caro leitor
possa haurir bênçãos espirituais que redundem na glória de Deus, edificação da
Igreja e salvação das almas, é o anelo deste autor! Partamos, portanto, aos
capítulos que se seguem, e apreciemos o que O Culto a Maria à Luz da Bíblia
e da História tem a nos dizer.
Boa leitura!
O autor.
OBSERVAÇÕES:
1)
Ao término de todos os capítulos, constam, de persi, suas respectivas Notas
Referenciais;
2)
As citações bíblicas, salvo outras indicações, são extraídas da Bíblia
Sagrada. Trad. pelo Pastor João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade
Bíblica do Brasil. Ed. Revista e Corrigida, 1995.
CAPÍTULO I
O CULTO A MARIA
1.1. A Igreja Católica cultua a Maria
Segundo o catolicismo, Maria deve ser cultuada, tanto direta, quanto
indiretamente, conforme a seguir exposto:
1.1.1.
Culto direto
Na Igreja Católica “A Santíssima Virgem ‘é legitimamente honrada com um culto
especial, [...] inteiramente singular’” [...].[1]
[...] “os fiéis devem venerar [...] a memória ‘primeiramente da gloriosa
sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo’ ”.[2]
A esse culto “especial e singular” (conhecido por marianismo),
que os católicos devotam a Maria, a Igreja Católica chama de hiperdulia (de
hiper+dulia). Dulia designa o culto que os católicos prestam aos Santos
e aos anjos; e hiper salienta a magnitude e singularidade desse culto. A
hiperdulia reserva-se, por isso, a Maria. Aurélio diz deste vocábulo o
seguinte: [...] “Forma especial e excelente de culto aos santos, reservada, por
isso, a Nossa Senhora: ‘O culto a Maria _ a hiperdulia _ quase constitui uma
religião à parte no decorrer dos séculos XII e XIII.’ (Guedes de Miranda, Eu
e o Tempo, p. 17) [...]”.[3] E o Padre Dom
Estêvão Bettencourt confirma: "A eminência do culto a Maria foi expressa
pelo Concílio de Nicéia II, em 787, mediante o termo 'hyperdulia'
(superveneração), ao passo que os demais Santos são cultuados em 'dulia'
(veneração)".[4]
É de domínio público que os protestantes crêem que o culto a Maria é
transgressão da Lei de Deus, o único que, na ótica evangélica, merece culto.
Representando o parecer dos evangélicos típicos, os autores John Ankerberg e
John Weldon pronunciam contra o culto a Maria, dizendo que a hiperdulia não é
uma doutrina genuinamente cristã, e tacham-na de “especial adoração” a
Maria.[5] Deste parecer evangélico, porém, os clérigos
católicos discordam, pois sustentam que não devotam a Maria o culto de
adoração, devido somente à Trindade, mas sim, um culto menor, do qual disseram:
“Este culto [...] difere essencialmente do culto de adoração que se presta ao
Verbo encarnado e igualmente ao Pai e ao Espírito Santo”.[6]
E: [...] “adoração [...] só compete a Deus” [...].[7] E,
segundo o Instituto Cristão de Pesquisas, a esse culto maior, que os católicos
dizem tributar só a Deus, a cúpula católica dá o nome de latria.[8]
De fato, o Vaticano II garante que o culto a Maria “de nenhum modo diminui o
culto latrêutico dado a Deus Pai por Cristo no Espírito”.[9]
Deste modo fica claro que, segundo os clérigos católicos, o que eles chamam de culto
a Maria, não extrapola os limites da veneração que lhe é devida, ficando,
por isso, aquém do supremo culto de adoração só cabível a Deus. Sim, o clero
católico também prega que realmente é pecado grave adorar a Maria. E como os
protestantes se portam diante desse argumento católico? Os que não possuem
formação teológica (e são a maioria), retrucam que o verbo venerar é
sinônimo de adorar, e que, portanto, os católicos adoram, sim, a Maria.
Pelo menos parcialmente, esta réplica me parece inconsistente, visto que
a Bíblia nos manda venerar o matrimônio: “Venerado seja entre todos o
matrimônio” [...] (Epístola aos Hebreus, cap. 13, v. 4). Este texto
bíblico prova que o verbo venerar pode (dependendo do contexto) se
referir ao respeito, reverência, consideração, estima, e assim por diante, que
se deve a tudo que é louvável. Logo, não é errado venerar a Maria. Não há
sequer um evangélico típico que não venere a mãe de Jesus. Um verdadeiro
evangélico venera Maria, venera os pais, venera a pátria, venera os idosos, venera
o cônjuge, etc. Mas, paralelamente, crêem os protestantes que os católicos
extrapolam os limites bíblicos naquilo que chamam de veneração a Maria.
E justificam esta postura teológica, alegando que é possível venerar a Maria
sem ajoelhar-se diante de suas estátuas e/ou estampas, cantar-lhe louvores,
acender-lhe velas, chamá-la de medianeira entre Deus e os homens, nossa única
advogada, nosso único refúgio, nosso único asilo, porta do Céu, Rainha dos
anjos, Nossa Senhora, Co-redentora, etc.
1.1.2.
Culto indireto
Pregam os líderes espirituais dos católicos que o culto que eles prestam
às imagens de Maria, na verdade é dirigido a esta, e não àquelas. Aclarando: Os
católicos cultuam à mãe de Jesus através das imagens dela. Neste caso, cultuar
a uma imagem de Maria, é cultuar à mãe de Jesus indiretamente. Veja o seguinte
fragmento:
O culto cristão de imagens [...] se dirige ao modelo
original, e “quem venera uma imagem, venera nela a pessoa que nela está
pintada”. A honra prestada às santas imagens é uma “veneração respeitosa”, e
não uma adoração, que só compete a Deus: O culto da religião não se dirige às
imagens, em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de
imagens [...]. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina
nela, mas tende para a realidade da qual é imagem [...]. O culto às imagens
sagradas está fundamentado no mistério da encarnação do Verbo de Deus. [10]
Este argumento não demove os protestantes da sua decisão de não cultuar a
criatura alguma - quer direta, quer indiretamente -, e o retrucam assim:
Qualquer culto, cujo objeto não seja (exclusiva e diretamente) a Trindade, é
idolatria, isto é, culto a ídolo. Esses cultos (culto aos Santos, aos anjos e a
Maria, quer direta, quer indiretamente) são, na melhor das hipóteses,
desnecessários, já que os profetas e os apóstolos, bem como todos os cristãos
do Século I, passaram muito bem sem os mesmos, conforme atestam a Bíblia e a
História secular. Aliás, veremos adiante que alguns teólogos católicos também
pensam assim.
1.2. O clero católico não adora a Maria?!
Há pouco, anotamos que os clérigos católicos pregam que realmente só Deus
é digno de adoração, e que, por isso mesmo, também não adoram a Maria, mas que
tão-somente lhe prestam culto. E ainda explicam que esse culto é sinônimo de
veneração. Mas o Pastor Tony Armani, representando a opinião evangélica,
rebate: [...] “a Bíblia rejeita esse tipo de [...] veneração [...]
definitivamente repudiada por Jesus Cristo: ‘... Ao Senhor teu Deus adorarás e só
a ele prestarás culto’ (Mateus 4. 10)”.[11] Sim, Armani
recorre ao fato de a Bíblia dizer que só a Deus se pode prestar culto,
bem como adorar, como prova de que o clero católico está equivocado. Aos
protestantes parece, pois, que dizer “cultuo a Maria, mas adoro só a Deus”, é
tão inusitado quanto dizer “adoro a Maria, mas cultuo só a Deus”.
Há diferença entre adorar e cultuar? "Não, mil vezes não!"
diria qualquer protestante típico. Tanto na nossa língua portuguesa, como nos
idiomas originais da Bíblia (hebraico e grego), o verbo adorar é
sinônimo de cultuar. Eis as provas de que assim é:
A)
Em Português: Aurélio define adorar,
de diversas maneiras, entre as quais, Render culto a (divindade) e prestar
culto de adoração.[12]
Certamente o leitor não ignora
que frases, orações e até palavras, devem ser consideradas à luz do contexto. E
esta regra não admite exceção. Por este motivo, o mesmo Aurélio nos diz que
estas palavras podem ainda significar amar extremamente, gostar muitíssimo de,
etc. Por conseguinte, das frases adoro maçã e cultuo às
letras, não se depreende o ato religioso de adoração;
B)
Em Hebraico: Demonstro a seguir, que
o visto acima, em relação aos vocábulos adorar e cultuar em
Português, se vê também (como já fiz constar) nos idiomas em que a Bíblia foi
escrita. Eis as provas: Vine nos diz que adorar (do hebraico sãhãh),
pode tratar-se do ato de adorar (a Deus), ou simplesmente se referir ao ato de
se curvar diante de um superior ou soberano, como Davi e Rute respectivamente
se curvaram diante de Saul e Boaz (1Samuel, cap. 24. v. 8; Rute,
cap. 2. v. 10).[13]
C)
Em Grego: O mesmo Vine, sob o
verbete adorar, às pp. 374-375, fornece uma lista de cinco verbos e três
substantivos gregos, relacionados com a devoção a Deus. Referindo-se ao último
substantivo (portanto, ao oitavo vocábulo da série, a saber, threskeia),
nos inteira tratar-se da palavra traduzida por culto em Colossenses,
cap. 2. v. 18, onde se proíbe prestar culto aos anjos. Isto esclarece que, de
acordo com renomados dicionaristas, não há qualquer diferença entre adorar
e cultuar. Estas palavras, tanto nas línguas originais da Bíblia
(Hebraico e Grego), quanto em Português, variam de significado de acordo com o
todo das frases em que forem inseridas, oscilando entre adorar (ou cultuar) a
Deus e homenagear (ou reverenciar) a um soberano, ou a uma pessoa superior.
Embora, como já observado acima, tenhamos a palavra dulia, que, também,
dependendo do contexto, trata do serviço sagrado prestado a Deus. Logo, os
católicos poderiam até, à guisa de subterfúgio, dizer que não prestam a Maria a
adoração suprema, devida só a Deus, mas sim, uma adoração menor, a qual, embora
compatível com sua elevada dignidade de Mãe de Deus, é, entretanto, inferior à
adoração latrêutica tributável exclusivamente à Santíssima Trindade. Mas
simplesmente dizer que não adoram a Maria é, na concepção evangélica,
subestimar a inteligência dos que divergimos desse tipo de culto. Sim -
questiona o protestantismo -, se o ato de ajoelhar-se aos pés das estátuas de
Maria, dirigir-lhe rezas, acender-lhe velas, cantar-lhe hinos de louvores,
conferir-lhe funções e títulos próprios do Senhor Jesus Cristo (Senhorio,
Mediação entre Deus e nós, Advocacia dos pecadores, Refúgio, Porta do Céu,
Escada do Paraíso, Estrela da Manhã, Arca da salvação, Co-redenção dos
pecadores, etc.), não é adorá-la, que falta ainda? O que os católicos entendem
por adoração?
A cúpula católica reconhece, segundo me consta, que adorar e venerar
são (dependendo do contexto, é claro) termos equivalentes entre si. Senão, veja
este exemplo:
[...]“exprimimos a nossa fé na presença real de Cristo
sob as espécies do pão e do vinho,... dobrando os joelhos, ou inclinando-nos
profundamente em sinal de adoração do Senhor. ‘A Igreja católica [...]
professa este culto de adoração que é devido ao sacramento da Eucaristia
[...] conservando com o máximo cuidado as hóstias [...] expondo-as aos fiéis
para que as venerem com solenidade, levando-as em procissão’ ”.[14]
Vimos que as palavras adorar e venerar são alternadas por eles
como equivalentes entre si. Será que isso se deu por um lapso? Se sim, mais
cedo ou mais tarde, é provável que esse “erro” sofra “correção”.
Afinal, pode ou não pode venerar a Maria? Ora, até o caro leitor é digno de
veneração, se entendemos esta palavra como sinônimo de respeito, reverência,
estima, apreço... Mas no catolicismo, como bem o confessou o Padre Dom Estêvão
Bettencourt supracitado, a Maria dá-se uma superveneração, sinônimo de hyperdulia,
cujas definições já sabemos. Vimos que de acordo com o catolicismo, esta superveneração
a Maria é um culto especial, inteiramente singular, aquém
do devido a Deus, mas além do que se presta não só aos demais seres humanos,
como também superior à devoção cabível aos demais Santos. Sim, leitor, no
jargão católico, a “veneração” prestada a Maria, está além do respeito
recíproco que deve haver entre nós, bem como supera a veneração abordada no
livro bíblico Epístola aos Hebreus, cap. 13, v. 4, ultrapassando até
mesmo a veneração que devemos aos demais Santos: João, Paulo, Ana, Pedro,
Hulda, Moisés, etc. E considerando que os clérigos católicos sabem, como já
provamos acima, que venerar pode ser sinônimo de adorar (visto terem
confessado que os católicos devem venerar a hóstia, à qual não negam o culto de
adoração), a frase "não adoramos a Maria, mas só a cultuamos ou
veneramos", soa aos ouvidos dos protestantes como meras parolas. Os
protestantes observam, então, em que consiste isso que os católicos chamam de veneração
a Maria, e rejeitam-na, por julgarem que a mesma é equivalente à adoração
que a Bíblia manda tributar só a Deus. O argumento evangélico é que se deveras
os católicos não adoram a Maria, então não adoram a Jesus também; e se adoram a
Deus, então adoram a Maria. Relembramos que não encontramos em toda a Bíblia,
nenhum servo de Deus, prestando a qualquer criatura (quer humana, quer
angelical; quer já tenho morrido, quer esteja viva), esses cultos que os
católicos rotulam de dulia e hiperdulia.
Concluímos que as palavras adorar e cultuar podem ser usadas,
tanto no âmbito religioso, quanto no secular; e que não têm, de per si, nenhuma
diferença. Isto é, no âmbito religioso, tanto adorar,como cultuar
referem-se à homenagem que se presta a Deus, ou aos deuses. Já no âmbito
secular, estes dois vocábulos significam "gostar muito de", "ter
em alta estima", "reverenciar", etc. E que tipo de culto a
Igreja Católica tributa a Maria? Secular ou religioso? Religioso, é claro.
Aliás, confessam os clérigos dessa religião, que esse culto é intrínseco ao
culto cristão, como veremos mais adiante. E nem precisariam fazer essa
confissão, já que é tão óbvio que assim o consideram. Atentemos para o fato de
que nem mesmo os demais Santos, que não são cultuados pelos católicos na mesma
intensidade que Maria (a esta, hiperdulia; àqueles, dulia), são cultuados no
sentido secular desta palavra. Bem, pelo menos a mim, os católicos jamais
prestaram hiperdulia, nem tampouco dulia.
1.3. A origem e a data do culto a Maria
Quanto à origem e data do marianismo, vejamos a exposição abaixo:
1.3.1.
Controvérsia entre os católicos
Há controvérsias entre os teólogos católicos quanto à idade e origem do culto a
Maria. Por exemplo, a Bíblia apologética nos informa que o livro
católico O Culto a Maria Hoje (elaborado por diversos teólogos, sob a
liderança do teólogo católico Wolfgang Beinert), reconhece que essa prática era
desconhecida dos cristãos primitivos: [...] “Não podemos dizer que a veneração
dos santos _ e muito menos a da Mãe de Cristo _ faça parte do patrimônio
original”.[15] Esta pronunciação, da qual não divergem os
protestantes, não se harmoniza com o que foi definido no decurso do Concílio
Vaticano II, ocorrido na década de sessenta do século
XX (cujas decisões estão em pleno vigor, já que depois disso não houve outro
concílio ecumênico), visto que neste Sínodo, referindo-se ao culto a Maria se
disse com todas as letras: “Este culto [...] sempre existiu na Igreja”
[...].[16] Não há, portanto, unanimidade entre os teólogos
católicos, quanto à origem e data do culto a Maria e aos demais Santos. O Vaticano
II garante que esse culto sempre existiu na Igreja. No entanto, os teólogos
católicos autores de O Culto a Maria Hoje asseveram que “Não podemos
dizer que a veneração [...] da Mãe de Cristo [...] faça parte do patrimônio
original”. E agora José?
O fato de BEINERT dizer que os cristãos primitivos não veneravam a Maria e aos
demais Santos, nos ajuda a entender que no vocabulário católico, o conceito de venerar
não é o mesmo que ter em alta estima, reverenciar, respeitar,
homenagear, etc.; visto ser óbvio que os cristãos sempre reverenciaram a
Maria, a Moisés, a Abraão, aos apóstolos... Logo, no livro em questão no
presente subcapítulo, venerar é mais que homenagear. Refere-se ao
culto que os católicos prestam aos Santos, classificados em dulia e hiperdulia.
Quem está certo, o Concílio Vaticano II, que sustenta que o culto a
Maria sempre existiu na Igreja, ou Beinert e sua equipe que asseveram que o
culto a Maria é inovação? No próximo subcapítulo respondo a esta pergunta,
mostrando que Beinert e sua equipe não estão equivocados, pois veremos que os
elaboradores de O Culto a Maria Hoje têm renomados autores, bem como a
História Universal, a seu favor. Eles não estão sós. E eu me uno a eles e aos
autores que os ombreiam.
1.3.2.
O marianismo à luz da História Universal
Constam de diversos compêndios, que no ano 313 d.C., o imperador Constantino I
fez do cristianismo a religião oficial (de fato, e não de direito) do Império
Romano. Ao fazer isso, concedeu ao cristianismo inúmeras vantagens. A Igreja, a
partir daí, de perseguida tornou-se a religião da moda, de status e rentável.
Assim, muitos pagãos interesseiros se tornaram cristãos de fachadas. Esse
horroroso quadro piorou, quando Constantino II, O Jovem, que sucedeu
Constantino I, “decretou a pena de morte e o confisco de propriedade, para
todos os adoradores de ídolos” [...].[17] O Imperador
Teodósio I, que oficializou (agora de direito, e não apenas de fato) o
cristianismo em 380 d.C., deu continuidade à intolerância religiosa encabeçada
por Constantino II, obrigando os pagãos a se tornarem cristãos.[18]
Veja ratificação a seguir:
Teodósio [...]
suprimiu o culto pagão em todos os lugares e de maneira absoluta. Os [...]
funcionários receberam por toda a parte ordem de perseguir o culto pagão; os
cristãos fanáticos tiveram toda a liberdade de o combater pela violência. Assim
desapareceu o paganismo [...].[19]
E a junção desses dois fatores (as regalias que a partir de Constantino I foram
conferidas à Igreja, somadas ao triste fato de que o cristianismo tornou-se
religião imposta pela força imperial) fizeram do cristianismo a religião da
maioria. Mas esses “cristãos” conservaram uma boa porção das crenças pagãs.
Eles saíram do paganismo, mas o paganismo não saiu deles. Conseqüentemente,
sincretizaram o paganismo com o cristianismo, implantando no seio da Igreja o
culto a Maria. Culto este que, segundo parece, alguns “cristãos” do Egito já
vinham praticando, como ato isolado, desde o século III, pois já oravam a Maria
nestes termos: “‘A vós recorremos, Santa Mãe de Deus’” [...].[20]
Aclarando: Esse casamento do cristianismo com o paganismo, de que falamos, se
deu assim: Os pagãos cultuavam a muitos deuses e desusas. Essas divindades
tinham, de per si, sua (s) especialidade (s) definida (s). Seus respectivos pontos
geográficos de ação, também eram circunscritos: Minerva – deusa latina da
sabedoria; Hermes – deus grego da eloqüência, do comércio, dos ladrões, e o
mensageiro dos deuses. Era também o deus da cultura física; Diana - deusa da
caça, que os romanos identificaram com a Ártemis grega; Apolo – deus grego da
luz, das artes, e da adivinhação; Osíris – deus do antigo Egito, protetor dos
mortos, etc.[21] Ao se tornarem “cristãos” à força e/ou por
razões escusas, os pagãos substituíram o antigo culto aos deuses, pelo culto
aos anjos e aos grandes vultos do cristianismo: os apóstolos, Maria, e outros.
Segundo renomados autores, até mesmo as estátuas dos deuses foram
reaproveitadas no culto a Maria e aos demais Santos. Não é, pois (segundo tais
eruditos), por mera coincidência que os Santos católicos também têm suas
respectivas funções: Santo Antônio - casamenteiro; São José – padroeiro da boa
morte; Santa Edwiges - padroeira dos endividados, etc. Note ainda, que
similarmente aos deuses dos pagãos, os Santos católicos também têm seus pontos
geográficos mais ou menos delimitados: São Sebastião – padroeiro do Rio de
Janeiro; Nossa Senhora do Guadalupe – padroeira da América Latina e, em
particular, do México; Nossa Senhora de Fátima – padroeira de Portugal; Nossa
Senhora Aparecida – padroeira do Brasil, etc. E, quanto ao culto a Maria,
nenhum historiador ignora a adoração que os pagãos prestavam a uma deusa
conhecida por Grande Mãe. O culto a essa deusa converteu-se em culto à Mãe de
Deus. Eis a seguir algumas transcrições que ratificam o que afirmamos:
A fim de aumentar o prestígio do sistema eclesiástico
apóstata, os pagãos foram recebidos dentro das igrejas independente da
regeneração pela fé, e foram permitidos abertamente reter seus signos pagãos
e símbolo. [22]
O édito de tolerância de Constantino, que tornou o
cristianismo, a religião preferida, atraiu a afluência de milhares de adeptos
das religiões pagãs. Essas pessoas foram portadoras de muitas de suas crenças,
superstições e devoções pagãs. Sua adoração a Ísis, Isthar, Diana, Atena, etc.,
foi transferida a Maria. Dedicaram-lhe estátuas e se ajoelharam diante delas,
orando como haviam feito antes às deusas pagãs. Às imagens de seus antigos
deuses eram dados agora nomes de santos.[23]
Então, esses “cristãos” nominais levaram suas práticas
pagãs para a Igreja de Roma [...]. Aos poucos as imagens pagãs foram
substituídas por imagens cristãs; os deuses pagãos, substituídos pelos deuses
cristãos (os santos bíblicos) e, na esteira desse sincretismo religioso, a Santa
Maria surgiu como “Mãe de Deus”, “Senhora”, “Sempre Virgem”, “Concebida sem
pecado”, Assunta aos céus”, “Mediadora e Advogada”, Co-Redentora.[24]
O historiador Severino Vicente da Silva, professor da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), disse:
As deusas celtas foram absorvidas pela figura de
Maria. Onde houve anteriormente à chegada do cristianismo um culto mais
organizado em torno de uma divindade feminina, Maria surge como uma
intermediária entre as culturas que se chocam; [25]
A historiadora Claudete Ribeiro de Araújo, do Centro de Estudos de História da
Igreja na América Latina, também asseverou: [...] “o culto mariano nasceu [...]
como substituto da adoração à Grande Mãe, um (sic) figura que pode ser encontrada
em várias religiões e culturas pagãs" (Ibidem); e o famoso
historiador Chantepie de la
Saussaye registrou:
Tudo o que [o paganismo] continha, quanto a elementos
vivos, passara ao cristianismo, que, desde então, abundantemente provido de
pensamentos e de fórmulas greco-romanas, se encontrava em condições de
desempenhar a sua missão no mundo. (SAUSSAYE, 1940:820);
Não destoando dos peritos supracitados, sustentou o Instituto Cristão de
Pesquisas (ICP): “Dessa forma, o culto aos santos e a Maria substituiu o dos
deuses e deusas do paganismo”.[26]
Os pagãos foram tão meticulosos ao casar o paganismo com o cristianismo, que
conferiram auréolas ou círculos às imagens de Maria e outros Santos, assim como
às imagens de Cristo, do mesmo modo que antes haviam feito aos seus deuses: “Os
pagãos colocavam um círculo ou auréola ao redor da cabeça daqueles que eram
‘deuses’ em suas pinturas. Esta prática continuou [...] na [...] igreja
romanística” (WOODROW, 1966:37).
1.3.3.
O clero católico sabe
Os clérigos católicos não negam que o culto aos santos vem do paganismo, e que
se deve a isso a semelhança existente entre os deuses e os santos católicos, o
que reforça a sólida base sobre a qual nos apoiamos, e nos poupa da necessidade
de provarmos a veracidade de nossas fontes. Entremos então na seara católica, e
coletemos de lá uma amostra da aquiescência do seu clero, sobre este assunto.
Ei-la:
Tornou-se fácil transferir para os mártires cristãos
as concepções que os antigos conservaram concernente aos seus heróis.
Esta transferência foi promovida pelos numerosos casos nos quais os santos
cristãos tornaram-se os sucessores das divindades locais, e o culto cristão
suplantou o antigo culto local. Isto explica o grande número de semelhanças
entre deuses e santos (WOODROW, 1966:35, citando The Catholic
Enciclopedia, v. IX, pp. 130-131. Grifo nosso).
A palavra heróis, constante do último texto supra transcrito, refere-se
aos deuses do paganismo: [...] "'herói' no sentido pagão [...] de grandes
vultos humanos divinizados" [27]
1.4. A exegese de hiperdulia
“Dulia” é palavra grega, a língua original na qual se escreveu o Novo
Testamento. Trata-se do verbo grego douléuõ, e significa servir.
Disse o apóstolo Paulo: [...] “sede fervorosos no espírito, servindo ao
Senhor” (Romanos, cap. 12. v. 11, grifo nosso). Neste caso, o gerúndio servindo
é a tradução de douleuôn. Aqui se manda, pois, servir ao Senhor. Logo, a
Bíblia manda prestar dulia a Deus. E, sendo assim, neste caso este vocábulo
trata da nossa submissão ao Senhorio de Cristo. Deste modo, o que a Bíblia nos
manda prestar a Deus, na Igreja Católica se presta aos Santos e aos anjos, como
já demonstramos. E, como Maria merece uma devoção especial e inteiramente
singular, dulia fica aquém do devido, por cujo motivo lhe tributam hiperdulia.
O que a Bíblia nos manda tributar a Deus, o clero católico acha que está aquém
dos méritos de Maria? Estaria ela acima do próprio Deus? Julgue o leitor e tire
suas próprias conclusões.
1.5. “Deus mandou fazer imagens”
É do conhecimento de todos os leitores da Bíblia que, segundo a mesma, Deus
proibiu confeccionar imagem de escultura, assim como também mandou fabricá-las.
Está escrito: “Não farás para ti imagem de escultura [...]. Não as adorarás,
nem lhes darás culto” [...].[28] Amiúde os protestantes
recorrem a este texto e outros correlatos, em repúdio ao culto às imagens,
culto este incentivado pelos líderes católicos. Estes, porém, recorrem ao
seguinte argumento:
[...] o texto de êxodo 20. 4-5 não era uma proibição
absoluta, mas condicionada por circunstâncias em que vivia o povo de Israel,
haja vista que o próprio Deus mandou que se confeccionassem imagens sagradas
(Êx 25. 17-18; 1 Rs 6.23-29; 7. 23-28; 1 Cr 228-13). (Bíblia Apologética.
Op. cit., p. 101).
Entretanto, em resposta a esse argumento, a mesma Bíblia Apologética,
representando a opinião evangélica, responde que
[...] Se os filhos de Israel tivessem [...] cultuado
esses objetos [...], Deus mandaria destruí-las. Foi isso que aconteceu com a
serpente de bronze, levantada por Moisés no deserto, quando se tornou objeto de
culto (2 Rs 18.4) (Ibidem, p. 102).
Isto prova que os evangélicos também entendem que a proibição constante
de Êxodo, cap. 20, vv. 4-5 diz respeito à confecção de imagens dos
deuses, para fins de culto a estes. E que, é exclusivamente neste sentido, que
tais imagens devem ser desdenhadas. Mas os pagãos que se fingiram de
convertidos ao cristianismo no século IV, muito longe de desdenhar tais
imagens, adaptaram-nas ao culto cristão, como já documentamos. E assim
permanece até hoje, como vimos. Isto posto - crêem os protestantes -, o culto
às imagens de Maria transgride sim, o prescrito em Êxodo, cap. 20, vv.
4-5, quanto às imagens dos ídolos. Esta postura evangélica é científica, visto
estar tão bem calcada na História, que a própria Igreja Católica não ousou
negar, como vimos enquanto apreciávamos um fragmento pinçado da The Catholic
Enciclopedia, op. cit.). Ora, fica estabelecido uma vez por todas, que os
protestantes não discordam do uso de imagens em si, mas sim, do emprego das
mesmas no culto, principalmente se esse culto não for rendido exclusivamente a
Deus. Deste modo, claro está que as estátuas de Getúlio Vargas, Tiradentes,
Marcílio Dias, e outros vultos nacionais não sofrem o repúdio dos protestantes.
Certamente, se nos dias apostólicos existissem máquinas fotográficas, e se os
apóstolos tivessem sido fotografados, nenhum protestante hesitaria possuir uma
foto deles. Igualmente, se algum contemporâneo dos apóstolos, tivesse esculpido
estátuas ou desenhado imagens que deveras contivessem seus traços, que tais
ícones seriam estimados pelos evangélicos, como também veneram as fotos de seus
parentes e amigos, bem como reverenciam as estátuas e bustos de seus patrícios,
cujo patriotismo os destacou. Talvez desdenhassem tais ícones (refiro-me às
inexistentes estátuas e fotos dos apóstolos), por temer estar induzindo outrem
à idolatria, e não por acreditar que tal ato fosse em si mesmo, pecado.
Dissemos que “talvez desdenhassem tais ícones, por temer estar induzindo outrem
à idolatria”. É razoável supormos isso? Cremos que sim, pelo seguinte: Se
estátuas feitas por quem não conheceu os apóstolos (e portanto, não trazem seus
traços físicos), já são tão cultuadas, que não fariam aos retratos de Maria, de
Cristo, dos apóstolos, e outros grandes vultos do cristianismo, se tais fotos,
estátuas e desenhos existissem?
1.6. Imagens fenomenais
Que dizem os católicos sobre os fenômenos atribuídos às imagens de Maria?
Vejamos:
1.6.1.
Posição oficial
Há muitas provas de que os pagãos atribuíam às estátuas de seus deuses
intrigantes fenômenos. Referindo-se esses ídolos, a Bíblia Apologética
op. cit., observa que [os pagãos] “Acreditavam [...] que a divindade se fazia
presente por meio dessa prática” (Ibid.). Ademais, consta da Bíblia que os
pagãos criam que a imagem da deusa Diana havia descido de Júpiter (Atos dos
Apóstolos, cap. 19, v. 35). Estes fatos históricos nos ajudam a entender,
que também neste aspecto o marianismo perpetua uma prática pagã, já que às
imagens de Maria se atribuem notáveis fenômenos. Obras oficiais da Igreja
Católica, como é o caso do livro Maria, Por que Choras?, impresso sob o
imprimatur do Reverendíssimo Eugene J. Driscoll, nos dizem que as estátuas de
Maria têm chorado, sangrado, sorrido, exalado fragrância, e até falado.[29] Em abono a
essa fé católica - de atribuir o sobrenatural às imagens de Maria -, fé esta
que os protestantes tacham de superstição e pecado de idolatria, o dito livro Maria,
Por que Choras? registra as seguintes palavras do Papa João Paulo II: “Se a
virgem chora, isto quer dizer que tem seus motivos” (Ibid., p.1). Num panfleto
católico, em poder deste autor, distribuído pelos promotores da campanha
católica Vinde Nossa Senhora de Fátima, não tardeis, afirma-se
textualmente que os olhos da estátua de Nossa Senhora de Fátima “já choraram
milagrosamente 14 vezes!”. Consta no verso do dito panfleto, fac-símile de uma
carta remetida pelo Cardeal Sílvio Oddi, ao Reverendíssimo Cônego José Luiz
Marinho Villac, ardoroso apoio do Vaticano, pelo empenho desse Cônego na
coordenação da supracitada campanha. E estas informações de primeira mão, nos
impelem a crer, que o ex-Padre Aníbal não foi, necessariamente, fantasioso (ou
até mesmo mentiroso), quando registrou às páginas 13-14 de seu livro A
Senhora Aparecida, que a estátua de Nossa Senhora Aparecida teria (segundo
crença católica difundida até por clérigos) fugido da casa do devoto Felipe
Pedroso, rumo ao alto de uma colina, da qual trouxeram-na em vão, visto que
para lá regressou ela três vezes. Donde inferiram que Nossa Senhora queria que
ali se construísse para si uma capelinha. O que tudo se executou com muita
presteza!
1.6.2.
Controvérsia entre os católicos sobre as imagens de Maria
Bem, vimos que a posição oficial da Igreja Católica quanto aos prodígios atribuídos
às imagens de Maria, é que tais ícones realmente podem chorar, sorrir, sangrar,
exalar perfume, falar. Assim pensava o Papa João Paulo II, bem como ainda
pensam expoentes membros do clero católico, como é o caso dos Reverendíssimos
Sílvio Oddi, José Luiz Marinho Villac, Albert J. Hebert e Eugene J. Driscoll,
como acima exarado. Mas nem todos os católicos pensam assim. Até mesmo entre o
alto clero católico há quem pense diferente. Entre estes, há os que suspeitam
tanto da sinceridade, como da intelectualidade dos que crêem nessas coisas. Por
exemplo, o cardeal-arcebispo Dom Aloísio Lorscheider, afirmou destemidamente:
“Eu não acredito em imagem de Nossa Senhora que chora. Os bobos
correm atrás disso pois não sabem quantas mutretas há por trás de coisas
assim” (ANKERBERG e WELDON, 1997:81, Apêndice, citando a revista Veja,
de 22, mai. 1991, p. 32, grifo nosso). Esta ousada declaração é comprometedora,
pois assim esse cardeal põe em xeque a idoneidade de expoentes clérigos da
mesma envergadura que ele, que piamente confessam crer na autenticidade desse
fenômeno. Aliás, Dom Aloísio abalou as estruturas da própria Igreja Católica,
já que a crença no fenômeno por ele rebatido, visto por ele como bobagens e/ou
mutretas, não é exclusiva dos leigos, nem tampouco próprio dos católicos
não–praticantes (e por isso, mal informados), pela qual não seja justo,
portanto, que a Igreja responda; mas reconhecido oficialmente pela Igreja
Católica, como já demonstramos, quando nos reportamos ao livro Maria Por que
Choras?, e ao panfleto com o Brasão do Vaticano, sustentando que a estátua
de Nossa Senhora de Fátima já chorou 14 vezes. Bem, se os que crêem nisso são
bobos que ignoram as mutretas que há por trás dessas coisas, que pensa Dom
Aloísio do Cardeal Sílvio Oddi, do Reverendo Albert J. Hebert, do Cônego José
Luiz Marinho Villac, do Bispo Eugene J. Driscoll, e, sobretudo, de Sua
Santidade João Paulo II? Estes expoentes líderes católicos são bobos ou
mutreteiros? Bem, só Dom Aloísio pode responder a estes questionamentos.
1.7. Ela faz milagres?
É de domínio público que inúmeras pessoas alegam ter recebido bênçãos mil,
mediante a intercessão de Maria. O Dr. Aníbal (ex-padre) asseverou que tais
milagres, quando não são auto-sugestão, ou mentira, são obra do diabo.[30]
E realmente há diversas passagens bíblicas que atestam que Satanás também opera
milagres (2Tessalonicensse, cap. 2. v.9; Êxodo, caps. 7-8; Mateus,
cap. 7, vv. 21-23; Atos dos Apóstolos, cap. 26, v. 18; 2 Coríntios,
cap. 11, v.14; 2Tessalonicenses, cap. 2, v. 9, etc.). Deve ser por isso
que este pensamento predomina entre os evangélicos. Contudo, há protestantes
que admitem a possibilidade de Deus ter atendido a tais rezas, “por não
levar em conta a ignorância do adorador da ‘santa’”. Este autor ouviu um
ex-Padre dizer isso num de seus sermões. Os que esposam esse parecer também se
julgam fundamentados na Bíblia, a qual, segundo interpretam, diz que Deus não
tem em conta os tempos da ignorância (Atos dos Apóstolos, cap. 17, v.
30). Com quem está a razão? É o diabo quem faz tais milagres, é auto-sugestão,
é mentira, ou é Deus? Bem, já que há divergência entre os evangélicos quanto a
isso, é de se esperar que o leitor se interesse em saber a minha opinião
pessoal sobre este assunto. E é com enorme prazer que lhe informo que penso tal
qual o ex-Padre Aníbal.
1.8. Avaliando o teor do culto a Maria
Já fizemos constar que os clérigos católicos confessam que não prestam a Maria
o culto supremo do qual só Deus é digno. O Vaticano II garante que o culto a Maria
“de nenhum modo diminui o culto latrêutico dado a Deus Pai por Cristo no
Espírito”. É, pois, de se esperar que exaremos o que os protestantes dizem
disso. Vejamos, então, as considerações abaixo:
a)
[O Rosário, segundo o dicionarista Aurélio] “é uma enfiada de 165 contas,
correspondentes ao número de 150 ave-marias e 15 padre-nossos” [...];[31]
b)
[...] O Terço é assim chamado porque o número de suas contas corresponde a um
terço do Rosário. Logo, ele é uma enfiada de 55 contas, correspondentes ao número
de 50 ave-marias e 5 padre-nossos. Nestes dois exemplos [...], a Cristo coube
apenas menos de um décimo da devoção a Maria [...] (Ibidem);
c)
[...] Se o leitor ainda não notou, note e verá que a grande maioria das
estampas religiosas afixadas nos carros dos católicos, é de Maria” [...]
(Ibidem);
d)
[...] nos últimos [...] anos os católicos têm intensificado a distribuição de
folhetos evangelísticos. Vários desses panfletos já nos foram presenteados
[...]. E por mais incrível que possa parecer, mais de 90% dos folhetos que
ganhamos não enfatizam o nome de Jesus; antes falam de Maria. O nome Jesus
[...] é mencionado de passagem. Ele não é o personagem central da mensagem
(Ibidem).
O clero católico sustenta que “‘A piedade da Igreja para com a Santíssima
Virgem é intrínseca ao culto cristão’”.[32] Isto
significa que, de acordo com a fé católica, não existe cristianismo sem
marianismo. Ou seja, o culto a Maria não é opcional. Você pode ser católico sem
ser devoto de São José, ou de Santo Agostinho, ou de São Sebastião... Mas nunca
será verdadeiro católico, sem ser devoto de Maria, visto que o marianismo é intrínseco
ao culto cristão. Estou interpretando mal? Não me parece. E posso provar que
não estou só. Ombreia-me um dos maiores teólogos católicos, a saber, o Padre
Dom Estêvão Bettencourt: [...] “a devoção a Maria não é facultativa, ao passo
que a devoção a São Francisco ou São bento o é”.[33] E o
porquê disso reside no fato de que segundo a Igreja Católica, Maria é o
pescoço que liga o corpo à cabeça, isto é, que liga a Igreja a Cristo. Eis as
provas: 1) "A plenitude da graça estava em Cristo como sendo nossa cabeça;
estava em Maria por ser ela medianeira entre Cristo e nós, tal como o pescoço
transmite ao corpo a vida que vem da cabeça" (LIGÓRIO, Afonso Maria de. Glórias
de Maria. Aparecida do Norte: Editora Santuário. 19 ed. 2005, p. 25); 2) O
Papa Leão XIII observou numa encíclica em 1892, que “[...] nada nos é concedido
senão por Maria. Como ao Pai celeste só chegamos por meio do Filho, assim semelhantemente
só por meio de Maria, chegamos ao Filho” (Ibidem, nota de rodapé).
Observação: Tanto as Bíblias católicas, quanto as Bíblias
evangélicas traduzem a última parte de Mateus cap. 4, v. 10, de duas
maneiras: “só a ele prestarás culto” e “só a ele servirás”.
Quanto a este exemplo, ambas as traduções estão corretas, visto que, neste
caso, servir refere-se à prestação de serviço sagrado a Deus, o
que implica em adoração ou culto. Outra tradução possível, seria: “Diante do
Senhor, teu Deus, te prostrarás e só a Ele prestarás o santo serviço tributável
a quem se tem por Deus”.
NOTAS
REFERENTES AO CAPÍTULO I
1 Catecismo da Igreja Católica. Petrópolis
e São Paulo: Vozes e Loyola, 1993, p. 274,
grifo nosso.
2 Compêndio do Vaticano II. Petrópolis:
Vozes, 2000, p. 103, grifo nosso.
3 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo
Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira S. A., 1986, p. 897.
4. BETTENCOURT, Estêvão. Católicos Perguntam. Santo
André: O Mensageiro de
Santo
Antônio. 2004, p. 103.
5 ANKERBERG, John e WELDON, John. Os Fatos Sobre o Catolicismo Romano. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da
Meia-Noite, 1997, pp. 66-74.
6 Compêndio do Vaticano II. Op.
cit., pp. 111-112.
7 Catecismo da Igreja Católica. Op.
cit., p. 561.
8 Bíblia Apologética. São Paulo: ICP
Editora, 2000, p. 101.
9 Compêndio do Vaticano II. Op.
cit., p. 102 (Grifo nosso).
10 Catecismo da Igreja Católica. Op.
cit., pp. 561-562 (O grifo não é nosso).
11 ARMANI, Tony. O que todos devem saber
sobre o catolicismo romano. São Paulo:
Press Abba, 2000, p. 33 (Ggrifo nosso).
12 FERREIRA:1986, p. 49.
13 VINE, W. e UNGER, Merril F. e WHITE JR,
William. Dicionário Vine. Rio de Janeiro:
Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), 2003, p. 31.
14
Catecismo da Igreja Católica. Op. cit., pp. 380-381. Grifo nosso).
15 Bíblia Apologética. Op. cit., p.
102. Citando
BEINERT, Wolfgang, et all. O culto a
Maria Hoje. 3 ed. São Paulo: Edições Paulinas.
1980, p. 33.
16 Compêndio do Vaticano II. Op. cit.,
p. 111.
17 HURLBUT, Jesse Lyman. História da
igreja cristã. São Paulo: Vida, 1995, P. 80.
18 NICHOLS, Robert Hastings. História da
Igreja Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 11
ed.,
2000, pp. 83-84.
19 SAUSSAYE, Chantepie de la. et
al. História das religiões. Lisboa: Inquérito, 1940,
pp. 819-820.
20 BITTENCOURT, Estêvão. “Polêmica cega”. Pergunte
e Responderemos. Rio de
Janeiro, Lúmen Christi, mar. 2003, pp. 136-138.
21 KOOGAN, Abrahão e HOUAISS, Antônio.
Enciclopédia e Dicionário. Rio de Janeiro:
Guanabara
Koogan, 1993, pp. 948, 1130, 1245, 1377, 1419.
22 WOODROW, Ralph. Babilônia: a Religião dosMmistérios. Recife: Associação
Evangelística, 1966, p. 51 (Grifo nosso).
23 JETER, Hugh P. Será Mesmo Cristão o
Catolicismo Romano?. 2 ed. Rio de Janeiro: Betel. 2000, p. 73 (Grifo
nosso).
24 COSTA, Airton Evangelista da. A
verdade Sobre Maria. A. D. Santos Editora. 2004, pp. 13-14.
25 ARTONI, Camila e NOGUEIRA, Pablo. “A Face
Feminina de Deus”. Galileu. São
Paulo: Globo, 149, dez. 2003, pp. 18-26.
26 Instituto Cristão de Pesquisas. Série
Apologética. São Paulo: 2002, v. I, p. 74.
27 (BOYER, Horlando. Heróis da fé.
Rio de Janeiro: CPAD. 31 ed. 2005, p. v).
28 Bíblia sagrada. Trad. Padre
Antônio Pereira de Figueiredo. São Paulo: Novo Brasil
Editora Ltda. Êxodo, cap. 20. vv. 4 e 5. s.d.
29 HEBERT, Albert J. Maria, Por que
Choras? Rio de Janeiro: Edições Louva-a-Deus. 3 ed. 1991, pp. 1, 3, 34, 36.
30 REIS, Aníbal Pereira dos. Milagres e Cura
Divina. São Paulo: Caminho de Damasco, 1975, p.35.
31 SANTANA, Joel. A “Virgem” Maria É uma Deusa?
Rio de Janeiro: Voz Evangélica,
2002, p. 22.
32 Catecismo da Igreja Católica, op.
cit., p. 274, grifo nosso.
33 BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Católicos
Perguntam. Santo André: O
Mensageiro de Santo Antônio, 2004, p. 103.
CAPÍTULO II
MARIA – A RIVAL DA SANTÍSSIMA TRINDADE?!
A Igreja Católica reconhece que a devoção que ela rende a Maria, nem sempre foi
inferior à devoção que se deve tributar a Deus, mas sim, que ela (Maria) já foi
mais adorada do que o próprio Deus. Eis as provas:
2.1. Maria – a rival do Pai?
Referindo-se ao Concílio Vaticano II, que transcorreu durante os anos
sessentas, diz um livro oficial da Igreja Católica, lançado sob o imprimatur de
Dom Joviano de Lima Júnior, Bispo de São Carlos, SP: “Então o Concílio colocou
a Santíssima Trindade acima dos santos. Jesus passou a ocupar o centro
das devoções”.[34] Sendo assim, o clero católico não nega que
pelo menos até à década de 1960, os católicos punham os Santos acima da
Santíssima Trindade. E, naturalmente, o mesmo se pode dizer de Maria, já que
ela nunca esteve abaixo dos demais Santos, na ótica católica: [...] “exaltada
[...] acima de todos os anjos e homens”.[35] E será que o
dito Concílio conseguiu reconduzir Maria ao seu devido lugar, ou seja, a uma
posição inferior à de Deus? Parece-me que não, pelo seguinte:
A) O Padre Salvador Carrillo Alday, fez menção ao que
ele chamou de “[...] uma devoção séria e centralizada na Santíssima
Virgem Maria”.[36] Perguntam os evangélicos: Uma devoção
centralizado em Maria, tem no seu centro a pessoa de Deus? Quem ainda está no
centro: Deus ou Maria? O Padre Alday assevera que é Maria, e, segundo me
consta, ele não está equivocado;
B) O apóstolo Paulo dizia: “Se Deus é por nós quem será
contra nós?” (Romanos, cap. 8. v. 31). Mas certo livro oficial da Igreja
Católica, que não foi recolhido após o Concílio Vaticano II, antes vem
tendo novas edições (a edição em nosso poder veio a lume em 2005), diz:
a) “Se Maria é por nós, quem será contra nós?”;[37]
b) [...] “ao império de Maria todos estão sujeitos, até o próprio
Deus” (Ibidem, p. 152);
2.2. Maria –a rival do Filho?!
A devoção que os católicos praticantes prestam a Maria é tão acentuada, que não
hesitam atribuir-lhe diversos dos títulos que a Bíblia só confere a Cristo.
Vimos no primeiro tópico deste capítulo, que um livro oficial da Igreja
Católica afirma sem rodeios que o Concílio Vaticano II reparou o erro
que os católicos vinham cometendo, ao colocarem Maria acima de Deus: “Então
[Jesus] passou a ocupar o centro das devoções” (CECHINATO, 2001:428.
Grifo nosso). Ora, se esse erro foi removido, então ele existia. Logo, não
tenho que provar que havia tal erro, visto que o clero católico já deu as mãos
à palmatória. Contudo, vou exibir abaixo algumas provas de que na Igreja
Católica Maria estava e está, ora acima de Cristo, ora ao mesmo nível que Ele.
Dificilmente ela é posta um pouquinho abaixo dEle. Os fatos a seguir trazidos à
tona, reforçam o que já provamos acima: que no catolicismo Maria era e é o
centro das atrações, como bem o disse o Padre Alday. Sim, continuemos a ver os
fatos, pois falam por si mesmos, e são irrefutáveis:
2.2.1.
Maria estava acima de Cristo?
O ex-padre
Charles Chiniquy conta que ele pregava, quando era padre, que não devemos ir a
Cristo, visto que o Rei Jesus está irado. Segundo palavras suas, ele ensinava
que é a Maria que devemos recorrer.[38]
Martino Lutero
registrou que foi isso que ele aprendeu na Igreja Católica. Disse ele:
“Estremecia e tornava-me pálido ao ouvir alguém mencionar o nome de Cristo,
porque fui ensinado a considerá-lo como um juiz encolerizado. Fomos
ensinados [...] que é necessário [...] clamar a Maria para desviar de nós a ira
de Cristo”.[39]
Talvez se
pergunte: “Será que os ex-Padres Charles Chiniquy e Martinho Lutero falaram
a verdade?” Respondo a esta possível pergunta com as seguintes
interrogações: Por que não? Julga-se impossível que a Igreja Católica tenha
ensinado isso? Mas agorinha não provei que o clero católico confessa que Maria
esteve sim, acima de Cristo? E o fato de os clérigos católicos não terem
recolhido o livro Glórias de Maria (livro este que põe Maria não só em
pé de igualdade com o Senhor, mas acima Dele), não é, porventura, prova
esmagadora de que eles não só o faziam, mas que ainda o fazem? Ora, posto que o
réu não só confessa o crime, mas o comete diante dos nossos olhos, temos ainda
carência de testemunhas? Estas perguntas trazem suas respectivas respostas no
seu próprio bojo. Contudo, que os que nos conferem a honra de nos ler, decidam
por si mesmos quanto a como responder a essas perguntas, e que o façam com
conhecimento de causa, à base das informações que ora damos, bem como à luz da
razão que nos é comum: [...] "a razão se refere a uma realidade que é a
mesma para todos" [...]. [40]
2.2.2. Maria ainda estaria cima de Cristo
Eis as provas: Há
diversas provas de que na Igreja Católica Maria continua num patamar nada
inferior ao de Cristo. Ei-las: O clero católico proclama alto e bom som que
quem tem por ofício nos socorrer e aliviar, é Maria. A Cristo coube outras incumbências:
julgar e punir: “O Eterno Pai deu ao Filho o ofício de julgar e punir, e à Mãe
o ofício de socorrer e aliviar os miseráveis” (LIGÓRIO, 2005:37, op. cit.). E
este não é um ato isolado, pois goza da aquiescência de todo o clero, já que o
senhor Afonso, muito longe de ser repreendido, exonerado, e excomungado, foi é
canonizado e elevado a Doutor da Igreja. E, como se não bastasse tamanha
cumplicidade, aprovaram o seu referido livro Glórias de Maria (o que é
confessado à página 13 do mesmo), e estão traduzindo-o para os mais diversos
idiomas, prefaciando-o com sobejos elogios, recomendando a sua leitura, e
editando-o. Sim, o exemplar desse livro em meu poder, é publicado pela Editora
Santuário, que, como já sabemos, é uma das editoras católicas. Logo, podemos
dizer que o ensino de que Maria socorre e alivia, enquanto Cristo julga e pune,
goza da cumplicidade e sanção de todo o clero católico. Os clérigos que
canonizaram o senhor Afonso e o elevaram a Doutor da Igreja, assim como os que
traduzem o seu livro e o prefaciam com louvor, recomendando-o, são cúmplices
explícitos; e os clérigos que não ousam protestar contra isso, são cúmplices
implícitos, pois quem cala consente. Assim provamos que: a) O
catolicismo elevou Maria a um patamar acima do de Cristo; b) os ex-Padres
Lutero e Chiniquy denunciaram e refutaram esse gesto que os protestantes
consideram mariolátrico; c) os clérigos católicos dão suas mãos à
palmatória, isto é, confessam que de fato cometeu-se o erro de pôr Maria acima
de Deus, e acrescentam que já repararam esse erro, reconduzindo Maria ao seu
devido lugar, e repondo Cristo no centro das devoções; d) as recentes
edições do livro Glórias de Maria (a edição em poder deste autor é de
2005) provam que, segundo o catolicismo, Maria continua até hoje no mesmo lugar
de sempre; embora os clérigos do catolicismo digam que já procederam às devidas
correções desse erro em 1965. Sim, pois a Igreja Católica prossegue dizendo,
através do livro Glórias de Maria, que quem salva é Maria, não Cristo,
visto que o ofício deste não é o de nos socorrer e aliviar, mas sim, nos julgar
e punir. Ora, o fato de o clero católico dizer que já corrigiu o erro de elevar
Maria acima de Deus, prova que Lutero e Chiniquy não faltaram com a verdade, já
que ninguém pode se retratar de um erro que não cometeu. E as recentes edições
do livro Glórias de Maria, provam que na Igreja Católica a mãe de Jesus
ainda está no mesmo patamar de onde, segundo o clero católico, ela foi removida
a partir do Concílio Vaticano II. Bem, este é um parecer protestante com o
qual, obviamente, não converge o clero católico. Este jura de pés juntos que já
corrigiram isso desde a década de sessenta do século XX. Logo, o leitor deve
tirar suas próprias conclusões. E não se subestime, julgando-se incapaz de fazê-lo.
Não! Você é um ser racional! Não tenha medo de pensar! Não aposente a sua
cabeça, antes, use-a! Aposte na sua inteligência!
2.2.3.
Maria teria vencido Cristo
Embora a Igreja
Católica pregue que só Cristo salva: “Jesus Cristo, único Redentor e Salvador
nosso...” (Compêndio do Vaticano II. Op. cit., p. 101. Grifo nosso),
faz, entretanto, estas comprometedoras afirmações:
a) Maria nos salva com seus rogos: “Assunta aos céus, não abandonou este múnus
salvífico, mas por sua múltipla intercessão continua a alcançar-nos os
dons da salvação eterna. (...) Por isso, a bem-aventurada Virgem Maria é invocada
na Igreja sob os títulos de advogada, auxiliadora, protetora, medianeira”
(Catecismo da Igreja Católica. Op. cit., p. 274. Grifo nosso).
Geralmente, os
evangélicos refutam essa crença, alegando que invocar Maria é errado, visto não
encontrarmos na Bíblia um só texto que nos autorize a invocar os mortos, e
ainda respaldam-se em Deuteronômio, cap. 18. v. 11; e Isaías,
cap. 8, vv. 19-20. Mas os católicos, baseando-se no que chamam de Tradição,
se defendem dizendo que Maria está viva, pois já foi ressuscitada dentre os
mortos e elevada ao Céu. Além disso, citando 2Macabeus, capítulo 15,
versículos 11-16, argumentam que Onias e Jeremias, depois de mortos,
intercediam a Deus pelos judeus. Os evangélicos, porém, rejeitam tanto a Tradição,
quanto os Macabeus. Tradição? Macabeus? Que é isso? Vou
lhe explicar:
Tradição:
Todos os que lêem a Bíblia sabem que nem tudo que Jesus fez foi escrito (João,
cap. 20. 30-31; 21. 25). Os evangélicos crêem que as palavras de Cristo que não
foram anotadas, perderam-se com o tempo. Todavia, a Igreja Católica alega ter
em seu poder os ensinos de Cristo que não foram registrados por escrito. A isso
ela chama de Tradição. E acrescenta que a Tradição está acima da
Bíblia: “...Acima da Bíblia está a Tradição, isto é, a pregação de Jesus Cristo
que não foi escrita...” (Os Erros ou Males Principais dos “Crentes” ou
Protestantes. Editora O Lutador, 7 ed., 1957, p. 26, lançado sob o
IMPRIMATUR do Monsenhor Aristides Rocha). Muito poderíamos dizer acerca da Tradição;
por ora, porém, consideremos que o fato de alegarem que a Tradição está
acima da Bíblia, é indício de fraude. Medite e responda a si mesmo: Por que o
que não foi escrito, mas passado de boca em boca através dos séculos, teria
mais peso do que o que se escreveu? Será que é porque o que se escreve o vento
leva, mas o que se fala fica? (Ironizo). Ora, isso é apelação, não? Bem, não
quero mandar na sua cabeça. Raciocine e decida como bem quiser.
Macabeus:
A Bíblia católica é maior do que a Bíblia evangélica. Esta corresponde a menos
de 90% daquela. Trato deste assunto minuciosamente no capítulo IV do meu livro Análise
Bíblica do Catolicismo Romano, também disponível no meu site www.pastorjoel.com.br . Aqui, porém, informo apenas que, dentre as
muitas razões para rejeitarmos Macabeus, sobressai o fato de o seu autor
pedir que os seus leitores o perdoem, caso encontrem no mesmo, algum erro. Isto
testifica da humildade do escritor, assim como da falta de inspiração divina,
já que Deus jamais nos pedirá que o perdoemos pelos Seus erros. Senão, vejamos
o que consta de 2Macabeus, último capítulo, versículos 38-39: “... Porei
aqui fim à minha narração. E se ela está bem organizada e como convém à
história, isso é também o que eu desejo; mas se pelo contrário foi escrita com
menos dignidade, deve-se-me perdoar” (Bíblia traduzida
pelo padre António Pereira de Figueiredo, op. cit. Grifo nosso).
b) Maria
salva: Tenho alguns panfletos católicos que afirmam sem rodeios que Maria
salva: “Ela vai salvar a humanidade”. E: “O meu [de Maria] Imaculado coração
será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até
Deus" (Grifo nosso). Estas afirmações são transcritas da obra que
documenta as palavras que Maria teria dito aos pastorinhos em Fátima/Portugal,
em 1917.
c) Maria
salva mais do que Cristo:“Quando nos dirigimos a esta divina Mãe,
não só devemos ficar certos de seu patrocínio, mas às vezes seremos até mais
depressa atendidos e salvos chamando pelo nome de Maria, do que invocando o
santíssimo nome de Jesus, nosso Salvador” (Glórias de Maria,
op.cit., p. 118. Grifo nosso). Este texto não diz que Cristo não salva - pois
como o leitor pode ver, faz-se referência a “Jesus, nosso Salvador” -, mas
tão-somente esclarece que Ele não é tão rápido e eficiente quanto Maria. Em
outras palavras: A salvação pode ser obtida através de Cristo, mas rapidez e
eficiência, só com Maria. Logo, se você não tem pressa, vá a Cristo; mas, se
você não dispõe de muito tempo, recorra a Maria já. Ela é vapt vupt. Em outras
palavras: Jesus também salva, mas não tão rápido quanto Maria.
Por que Cristo
não salva tão bem quanto Maria? A resposta é a seguinte ironia: Salvar não é a
Sua especialidade. Ele é especialista em julgar e punir, visto ter sido este o
ofício que o Eterno Pai lhe deu. E por que será que Maria é uma Salvadora mais
eficiente do que Cristo? Novamente a resposta é a seguinte ironia: Salvar o pecador
é a especialidade de Maria, visto que foi a ela que o Eterno Pai conferiu o
ofício de nos socorrer e aliviar. Quando Cristo tenta salvar alguém, não salva
tão bem quanto Maria, porque, neste caso, Ele está fazendo algo incompatível
com a Missão que o Pai Lhe deu, que é ofício de julgar e punir;
d) Maria é a única Salvadora: Já informei, que um livro oficial da Igreja Católica,
intitulado Glórias de Maria, assevera que o Reino de Deus consiste de
justiça e misericórdia, que esta foi cedida a Maria, e aquela Deus reservou
para si. Vejamos novamente: “Consistindo o reino de Deus na justiça e na
misericórdia, o Senhor dividiu: o reinado da justiça reservou-o para si, e o
reinado da misericórdia o cedeu a Maria”. E: “O Eterno Pai deu ao Filho
o ofício de julgar e punir, e à Mãe o ofício de socorrer e aliviar os
miseráveis” (Ligório, 2005:36-37. Grifo nosso). E diz mais: “Vós sois a única
advogada dos pecadores” (Ibidem, p. 105. Grifo nosso). Logo, se você quer
ganhar chibatadas, vá a Jesus Cristo, pois julgamento e punição são as suas
incumbências, nas quais especializou-se. Ele é o Juiz que lhe sentencia, bem
como o carrasco que executa a pena. Mas, se você quer cafuné, então recorra a
Maria. Em outras palavras: Você quer ir para o Inferno? Recorra a Cristo, o
Juiz que, por ser justo, lhe dará o que você merece: o Inferno. Você quer
socorro e alívio, isto é, salvação? Só uma mulher pode lhe ajudar - Maria! O
ofício que o Eterno Pai deu a ela, não é o mesmo que Ele deu ao Filho. Este
recebeu o ofício de julgar e punir, mas aquela recebeu o ofício de nos socorrer
e nos aliviar! Ora, o que esse livro está dizendo, é que não temos Salvador, e
sim, Salvadora. E que Aquele que os profetas e os apóstolos pensavam ser o
Salvador, na verdade é apenas o Juiz encarregado de nos julgar e condenar, bem
como o carrasco incumbido de nos executar. O clero católico tem, pois, um
"jesus" diferente do Jesus da Bíblia (2Co 11.4).
Talvez o clero católico tente se defender, alegando que não é bem assim. Mas,
se as palavras ainda dizem alguma coisa, é isso que diz o livro do Bispo
Afonso; e, portanto, é isso que os clérigos católicos estão dizendo, já que,
além de canonizar o senhor Afonso e elevá-lo a Doutor da Igreja (gestos estes
que implicam na aprovação do tal livro), ainda fazem constar da página 13 do
mesmo, que o Glórias de Maria é aprovado pela Igreja. E, não bastasse
tamanha cumplicidade, ainda promovem sua distribuição pelo mundo afora,
traduzindo-o, editando-o, prefaciando-o com sobejos elogios, e recomendando a
sua leitura.
***
Abaixo, mais algumas crenças católicas, das quais divergem os evangélicos, por
julgarem que as mesmas, além de maximizarem Maria além do que é justo,
minimizam a Cristo:
1)
Os protestantes sustentam, inspirados na Bíblia, que o nosso único Advogado é
Jesus (1João, cap. 2, v. 1), porém, os marianos dirigem-se a Maria
nestes termos: “Vós sois a única advogada dos pecadores” (LIGÓRIO,
2005:105, op. cit., grifo nosso);
2)
Que o único Salvador é Cristo, é fé protestante que consta da Bíblia (Atos
dos Apóstolos, cap. 4, v. 12). Todavia, a Igreja Católica ensina que [...]
“Ninguém se salva a não ser por meio de Maria” (LIGÓRIO, 2005:143, op. cit.).
3)
A Bíblia diz, e os protestantes o crêem, que “todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo” (Romanos, cap. 10, v. 13). Contudo, a Igreja
Católica canonizou um homem que confessou que não ousava recorrer a Cristo: “Ó
minha Rainha, sede-me advogada junto a vosso Filho, a quem não tenho coragem de
recorrer” (LIGÓRIO, 2005:120, op. cit.);
4)
Jesus disse: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á” [...] (João,
cap. 10, v. 9). No entanto, Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja Católica,
registrou que “Ninguém pode entrar no Céu, senão pela porta que é Maria”
(LIGÓRIO, 2005:136, op. cit.);
5)
Cristo asseverou que sem ele nada poderemos fazer (João, cap. 15, v. 5).
Entretanto, segundo o marianismo, “Quem pede e quer alcançar graças, sem a
intercessão de Maria, pretende voar sem asas” (LIGÓRIO, 2005:143, op. cit.),
isto é, sem Maria nada poderemos fazer;
6)
A Bíblia diz que Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens (1Timóteo,
cap. 2. v. 5), mas a Igreja Católica prega: “Como não ser toda cheia de graça,
aquela que se tornou a escada do paraíso, a porta do céu e verdadeira medianeira
entre Deus e os homens?” (LIGÓRIO, 2005:131, op. cit., grifo nosso);
7)
Sustentam as Escrituras que Jesus é a vida: (João, cap 1, v. 4: “Nele,
estava a vida” [...]; 14, v. 6: “Disse-lhe Jesus: Eu sou [...] a vida” [...]; Colossenses,
cap. 3, v. 4: [...] “Cristo, que é a nossa vida” [...]). Contudo, a Igreja
Católica diz: “Que seria, pois, de nós [...] que esperança nos restaria de
salvação, se nos abandonásseis, ó Maria, vida dos cristãos?” (LIGÓRIO,
2005:145, op. cit., grifo nosso);
8)
Diz a Bíblia: “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos
céus, e na terra, e debaixo da terra” (Filipenses, cap. 2, v. 10) . Mas
os marianos fazem ecoar que a Santíssima Trindade determinou que ao nome de
Maria “se dobrem os joelhos dos que estão no céu, na terra e no inferno”
(LIGÓRIO, 2005:213, op. cit.).
9)
A Bíblia diz que é Jesus quem batiza no Espírito Santo (Mt 3.11), porém, na
revista Defesa da Fé, órgão oficial do Instituto Cristão de Pesquisas,
março/abril de 1999, página 17, consta que há católicos carismáticos ensinando
que é Maria quem batiza no Espírito Santo. NOTA:
Talvez, essa nona crença seja um ato isolado ou estanque, própria dos adeptos
do moderno movimento carismático, mas as demais crenças acima catalogadas são
oficiais, já que constam do Glórias de
Maria.
2.3. Maria – a rival do Espírito Santo?
Quanto a isso, vejamos a consideração abaixo.
2.3.1.
Maria nos revela Jesus?!
O protestantismo acusa ainda a Igreja Católica de atribuir a Maria uma missão
da competência exclusiva do Espírito Santo. Veja este exemplo:
O padre [...] S. Falvo [...] Ao afirmar que Maria
revelaria Jesus [...] ele colocou sobre a mãe do Salvador [...] uma das
atribuições do Espírito Santo [...]: “Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito”;
[...] 1Co 2.10. [41]
2.3.2.
Maria nos santifica?!
No seu livro Aprendendo a dizer sim com Maria,
o padre [...] Marcelo Rossi diz: “Aqui veremos o que fazer para ter contato
maior com nossa mãe, que, em todos os momentos, por sua intercessão, nos guarda
em seu coração e nos conduz à santidade” [...]. Rossi [...] atribui à mãe do
Salvador a função de santificadora, que, segundo as Escrituras, é uma das
funções do Espírito Santo: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por
vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para
a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”. [42]
2.3.3.
É Maria quem nos converte à fé cristã?!
Convencer o pecador do pecado, da justiça e do juízo é da competência do
Espírito Santo (Jo 16.8). Logo, "só Ele nos induz à conversão", repetem
em uníssono os evangélicos. Contudo, Santo Afonso de Ligório atribuía sua
conversão a Maria: [...] "pois atribuía a Maria a sua conversão"
(LIGÓRIO, 2005:6, op. cit.).
2.4. Outros gestos marianos
Vejamos agora outras afirmações marianas, das quais divergem os protestantes,
por lhes parecer que tais declarações também usurpam o trono do Rei dos reis _
Jesus:
Se o meu Redentor, por causa de minhas culpas, me
lançar fora de seus pés, eu me prostrarei aos pés de Maria, sua mãe, e deles
não me afastarei enquanto ela não me alcançar o perdão (Ibidem, p. 102);
Em vão procura Jesus quem não procura achá-lo com sua
Mãe (Ibidem, p. 139);
É tributada ao Filho e ao Rei toda a honra que se
presta à Mãe e à Rainha (Ibidem, p. 131);
Maria é toda poderosa junto a Deus (Ibidem, p. 151);
Perca uma alma a devoção para com Maria e que será
senão trevas? [...] Ai daqueles [...] que desprezam a luz deste sol, isto é, a
devoção a Maria! [...] (Ibidem, p. 82).
Jesus Cristo é o único medianeiro de justiça [...].
Mas [...] Maria é medianeira de graças (Ibidem, p. 134);
E como poderia o Filho desatender à Mãe, mostrando-lhe
esta os seios que o sustentaram? [...]. A excelsa Virgem hospedou a Deus em seu
ventre; em paga de tal hospitalidade dele exige a paz para
o mundo, a salvação para os perdidos, a vida para os mortos (Ibidem, pp.
209-210, grifo nosso);
[...] Maria é nosso único refúgio, socorro e asilo (Ibidem,
p. 99);
Mas como em Jesus Cristo reconhecem e temem os homens a
majestade divina, aprouve a Deus dar-nos outra advogada a quem recorrer
pudéssemos com maior confiança e menor receio (Ibidem, p. 163, grifo
nosso), etc.
Vimos que alguns dos fragmentos acima pinçados do livro Glórias de Maria,
deixam claro que a Igreja Católica prega oficialmente que aos protestantes, por
não serem devotos de Maria, só lhes restam as trevas, isto é, estão perdidos e
sofrerão no além-túmulo as conseqüências dessa impiedade, caso persistam no
erro. Isto está patente na impetração do “ai” que ela lança sobre os
evangélicos _ “Ai daqueles [...] que desprezam [...] a devoção a Maria!” _,
assim como na afirmação de que “Quem pede e quer alcançar graças, sem a
intercessão de Maria, pretende voar sem asas”, isto é, não terá a graça
pretendida. Mas os protestantes não podem se melindrar diante desta sentença,
pois também, citando a Bíblia, a qual diz que só se deve adorar ou cultuar a
Deus (Mateus, cap. 4, v. 10; 6, v. 24), proclamam unanimemente (os
protestantes que destoam deste parecer são atípicos) que os marianos são
idólatras, e que serão lançados no inferno (conforme previsto em Apocalipse,
cap 21, v. 8, que ameaça os idólatras com o lago de fogo), caso não se
convertam enquanto há tempo. E uma demonstração de que realmente os evangélicos
crêem na condenação dos católicos, é o fato de o Instituto Cristão de Pesquisas
(órgão interdenominacional e fiel às doutrinas basilares da fé protestante,
que, por isso mesmo, pode se considerar porta-voz dos evangélicos, e, portanto,
uma autêntica voz protestante) dizer: “Um católico praticante de suas doutrinas
não pode ser salvo”.[43] Outro relevante exemplo, nos foi
dado pelo jogador de futebol (goleiro), Taffarel, evangélico desde 1985, membro
da Igreja Batista Central, no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte /MG,
dizer: “No catolicismo Deus estava distante de mim”.[44]
2.5. Glórias de Maria é marianismo oficial?
Bem, transcrevemos do livro Glórias de Maria, repetidas vezes, no
intuito de mostrar algumas das afirmações católicas, das quais divergem os
evangélicos. Mas, como estes fragmentos só servem para provar o que
pretendemos, se são extraídos de obra oficial da Igreja Católica, urge que
exibamos um laudo, provando que as nossas amostras foram submetidas ao rigor
científico, e que sobreviveram ao mesmo, ou seja, que o Glórias de Maria é documento oficial da Igreja Católica. Eis, pois,
o laudo comprobatório:
Em
vida a Igreja o honrou, elevando-o à dignidade episcopal. Morto, elevou-o aos
altares, deu-lhe a auréola de Doutor zelosíssimo, aprovou-lhe os escritos,
depois de percorrê-los cuidadosamente.
Os
Papas o distinguiram, chamando-o coluna do templo, estrela nas nebulosas do
erro, mestre em Israel (LIGÒRIO, 2005:13, op. cit., grifo nosso);
[...] Santo Afonso [...] faleceu com 91 anos e lhe foi
dado o título de ‘Doutor da Igreja (CECHINATO, 2001:313-314, op. cit.).
Doutores da Igreja são santos e santas que, nos
diferentes períodos históricos da Igreja, distinguiram-se pela doutrina
reta, grande sabedoria, santidade de vida e obras de notável valor (escritos ou
pregação). O que eles ensinaram tem validade perene e universal. Suas
obras servem de referência e de fonte aprovada pela Igreja para elaboração da
Teologia e da vivência da fé (Ibidem, 2001:96, grifo nosso).
Consideremos mais estes dados do livro Glórias de Maria:
1) É obra que, existindo há
259 anos, já teve 800 edições;
2) é publicado por editoras
católicas;
3) já foi traduzido em
alemão, inglês, espanhol, francês, holandês e em outras línguas; 4) os
tradutores e/ou editores (membros do clero) prefaciam as traduções, esbanjando
elogios (LIGÓRIO, 2005:3, 9,11, op. cit.);
5) consta do próprio livro,
como já vimos, que se trata de uma obra aprovada pela Igreja Católica, não sem
antes percorrê-la “cuidadosamente”;
6) e, finalmente, os demais
clérigos (papas, cardeais, arcebispos, padres, etc.), não repreendem tais
tradutores e editores. Por tudo isso, salta aos olhos a cumplicidade de todos
os clérigos. Conclusão: Glórias de Maria é livro oficial da Igreja
Católica. Logo, seu conteúdo representa o pensamento oficial da Igreja
Católica.
À base do que vimos sobre a definição de “Doutores da Igreja”, tudo quanto os
mesmos falaram ou escreveram, deveria representar o pensamento da instituição
católica. Mas não é bem assim. Por exemplo, Santo Tomás de Aquino, também
Doutor da Igreja Católica, não acreditava no dogma católico intitulado
Imaculada Conceição de Maria. Vejamos por ora, três exemplos comprobatórios
deste fato: [...] “o teólogo Thomas de Aquino era uma voz que se manifestava
veementemente contra o dogma de que Maria foi concebida sem o pecado original”;
[45]
Porque Tomás de Aquino combatera a crença na Imaculada Conceição de Maria, os
espanhóis do século XVII suspeitaram da santidade que lhe fora atribuída,
quando de sua canonização e elevação a Doutor da Igreja. Sobre isso, diz certo
livro do século XIX, agora republicado: “O povo chegou até a insultar as
imagens de Tomás de Aquino que a combatia com veemência”; [46]
3)
agora, leiamos o que escreveu o próprio Santo Tomás de Aquino:
A
bem-aventurada Virgem foi santificada antes de receber vida? (...) se a
bem-aventurada Virgem houvesse sido santificada de qualquer modo antes de
receber a vida, nunca teria incorrido na mancha do pecado original; e, portanto,
não teria necessidade da redenção e da salvação que é por Cristo, de quem se
diz: Ele salvará o seu povo dos seus pecados. (...) logo a santificação da
bem-aventurada Virgem foi depois de receber vida.[47]
É, pois, imprescindível que atentemos para o fato de que o livro Glórias de
Maria só pode ser citado como prova, quer contra, quer a favor do
catolicismo, porque consta do mesmo que a cúpula católica o sancionou: “aprovou-lhe
os escritos, depois de percorrê-los cuidadosamente” (LIGÓRIO, 2005:13, op.
cit., grifo nosso). Embora essa exigência devesse ser desnecessária, visto que
se os tais Doutores “distinguiram-se pela doutrina reta, grande sabedoria,
santidade de vida e obras de notável valor (escritos ou pregação); o que eles
ensinaram tem validade perene e universal; e se suas obras servem de referência
e de fonte aprovada”, é discrepante desautorizá-los aqui e acolá,
aleatoriamente, diante de doutrinas sobre as quais já se tenha ocorrido até
pronunciações ex-cátedras, como é o caso da suposta Imaculada Conceição de
Maria, da qual nenhum católico pode discordar, sob pena de se tornar anátema.
Ora, como manter nos altares, Santos doutores que não criam no que eu tenho de
crer, sob pena de excomunhão?
Bem, novamente trazemos à memória que no presente subcapítulo propomos provar
que o fervoroso marianismo constante das páginas do livro Glórias de Maria
não é um ato isolado, e sim, uma postura oficial da Igreja Católica. E a título
de mais algumas provas de que deveras Santo Afonso Maria de Ligório não está
só, antes é ombreado pelas autoridades da sua igreja, veja as transcrições a
seguir:
O
papa Leão XIII afirmou em sua encíclica de rosário Octubri mense (1891):
“Ninguém pode achegar-se a Cristo a não ser pela mediação de sua mãe”. O
papa Pio X (1903-1914) asseverou que Maria é “a dispensadora de todos os dons,
os quais Jesus adquiriu para nós por meio de sua morte e de seu sangue”. O papa
Pio XI (1922-1939) disse: “Com Jesus, Maria redimiu a raça humana”. A conclusão
a que chegou o papa Pio XII (1939-1958) em sua encíclica Mystice Corporis
(1943), foi que Maria voluntariamente ofereceu Cristo no Calvário: “Que, livre
de todo pecado, original ou pessoal, e sempre unida íntima e intensamente a seu
Filho, o ofereceu no Calvário ao Pai eterno ... por todos os filhos de Adão”.
Por
tudo isso é que o Vaticano II declarou que “havendo sido elevada ao céu, ela
não pôs de lado esse papel salvífico, mas por seus múltiplos atos de
intercessão continuou obtendo para nós os dons da salvação eterna” [...].
Quanto
aos seus [de Maria] sofrimentos temporais aqui na terra, a Enciclopédia
Católica ensina que ela “os suportou para nossa salvação.” Além disso: “No
poder da graça da redenção obtida por Cristo, Maria, por haver entrado
espiritualmente no sacrifício do seu Divino Filho pelos homens, fez expiação
pelos pecados dos homens e (por conseguinte) teve mérito na
aplicação da graça redentora de Cristo. Dessa forma, ela colabora na redenção
subjetiva da humanidade” (ANKERBERG e WELDON, 1993:68-70. op. cit., grifo no
original).
O escritor Guedes de Miranda, nos inteirou que nos séculos XII e XIII o culto a
Maria estava no seu apogeu. Parecia até que a hiperdulia não era um detalhe do
cristianismo, mas uma outra religião. Relembrando: “O culto a Maria _ a
hiperdulia _ quase constitui uma religião à parte no decorrer dos séculos XII e
XIII.” (MIRANDA, Guedes. Eu e o tempo, p. 17), citado por FERREIRA,
1986:897, op. cit..).
2.6. O marianismo em ascensão
O que vimos sobre Maria nos tópicos anteriores, certamente já nos deixou
impressionados. No entanto, coisas mais estupendas estão por vir. Há quem diga
que o marianismo está em ascensão. Como veremos abaixo, afirmam-se que há
católicos pensando que o Catolicismo ainda não está honrando Maria à altura de
seus méritos. Senão, veja os fragmentos apensados nos próximos tópicos:
2.6.1.
Maria - a quarta pessoa da divindade?!
Há controvérsia quanto a se a Igreja Católica projeta ou não fazer de Maria a
quarta pessoa da divindade. E essa polêmica também deve ser considerada, visto
que um bom observador deve colher amostras de tudo que, de alguma maneira, se
relacione com o objeto de sua pesquisa. Daí pinçarmos os fragmentos a seguir
expostos à apreciação do leitor.
A Santíssima Trindade pode estar com os seus dias
contados. Em seu lugar, a igreja católica estuda a proclamação da quarta pessoa
da divindade, a Virgem Maria, em pé de igualdade com o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. No novo “Quarteto Sagrado” proposto, Maria teria papéis
múltiplos: filha do Pai, mãe do filho e esposa do Espírito Santo (DUARTE,
1998:7, op. cit..).
Não sabemos até onde a jornalista Leneide Duarte (articulista, cujo texto
trasladamos parcialmente no parágrafo imediatamente anterior) estava segura do
que escreveu. Que teria levado-a à conclusão de que a Igreja Católica projeta
deificar Maria? Essa incógnita se torna ainda mais intrigante, quando lemos o
Padre Dom Estêvão Bettencourt que, embora sem também emitir dados
comprobatórios de sua afirmação, asseverou:
Jamais a Teologia católica pensou em justapor Maria ao
lado das três Pessoas da SSma. Trindade. O que houve por volta de 2000 foi um
movimento para pedir ao Santo Padre João Paulo II que definisse Maria como
Co-redentora, visto que, na qualidade de Mãe, colaborou intensamente com seu
Divino Filho. Tal campanha, porém, não surtiu efeito, pois se tratava de um
título pouco fundamentado na Tradição.[48]
Contudo, Duarte não está só:
Quem leu a revista americana Newsweek, da última
semana de agosto (1997), viu que, apesar de todos os avanços do mundo
pós-moderno na área tecnológica, a alma humana continua primitiva em sua busca
por ícones sagrados e em sua disposição de criá-los, mesmo que o caminho
seja o de arranjar uma quarta pessoa para a Trindade, uma mãe para o
Filho eterno de Deus, uma auxiliadora idônea para o Redentor e uma esposa para
o Espírito Santo: [49]
Sobre
esse item, julgo digno de nota o seguinte: 1) o jornal O Globo não está
sozinho, pois só aqui no Brasil há pelo menos mais três obras veiculando esta
mesma informação: O livro do ex-Padre José Barbosa Neto, op. cit.; a revista
evangélica Vinde, ano 2, nº 23, out./97, pp. 58-9; e o teólogo Karl
Weiss, que disse: “A loucura do catolicismo é tão sem limites que já há até
mesmo aqueles que desejam um lugar para Maria na Santíssima Trindade” (WEISS,
Karl. A Igreja que Veio de Roma. Rio de Janeiro: Universal Produções. 1
ed. 2ª tiragem, 2000, P.120); 2) Não me consta que a Igreja Católica tenha
reivindicado (judicial ou extra-judicial) o direito de reposta. Isso é causa
ganha, caso O Globo, a Newsweek , a Vinde, e a Universal
Produções tenham faltado com a verdade. Pergunta-se, pois: Por que a Igreja
Católica não fez uso deste direito? Resposta: Infelizmente não posso satisfazer
sua curiosidade, visto que também ignoro o porquê disso. Será que o motivo pelo
qual os clérigos católicos se calaram, seja porque não tinham como provar o
contrário? Não sei. Mas, como bem o diz um velho provérbio, “onde há fumaça há
fogo”. Isto significa que deve haver um fundo de verdade nessa história,
embora, talvez, seus narradores sejam sensacionalistas, fantasiosos e mal
informados sobre este assunto. Bem, o rigor científico deste livro exige que eu
admita todas essas possibilidades, uma vez que o réu nega as acusações. Repito,
não sei.
2.6.2.
Ratificando Maria como co-redentora
Dentro
de uma caixa no Vaticano, assinaturas de mais de 6 milhões de fiéis de 148
países solicitam que o Papa João Paulo II promova Maria ao mais alto cargo: o
de Co-redentora. Para esses devotos, ela coopera plenamente com Jesus no
processo de libertação da humanidade do pecado. [50]
Como o leitor pode ver, esta última transcrição confirma o que o Padre dom
Estêvão Bettencourt dissera, a saber, que deveras houve uma campanha com o fim
de definir Maria como Co-redentora.
Bettencourt observa, que a dita campanha não surtiu efeito porque se tratava de
um título pouco fundamentado na Tradição. Ora, se é pouco
fundamentado, então possui algum fundamento, mesmo que frágil. E qual é
esse frágil fundamento? Bettencourt não entra no mérito dessa questão. Contudo,
podemos perceber que por mais frágil que seja tal fundamento, a liderança
católica crê que o mesmo é suficientemente sólido para sustentar esta doutrina.
Haja vista o fato de a Igreja Católica já pregar textualmente que Maria é
Co-redentora. Senão, veja estas transcrições:
A mariologia é definida como o estudo da teologia que
"trata da vida, do papel e das virtudes da Bendita Mãe de Deus", as
quais "demonstram... sua posição como Co-redentora e Mediadora de
todas as graças” (ANKERBERG e WELDON, 1993:68, op. cit., citando a The
Catholic Enciclopedia, p. 370, grifo nosso).
O catolicismo romano [...] considera Maria como se ela
tivesse atributos da divindade, atribuindo-lhe os títulos: co-Redentora;
Advogada; Refúgio dos pecadores; Arca de Noé; Medianeira, etc. (ICP Editora. Série
Apologética. São Paulo, 2002, v. I, pp. 55-56. Grifo nosso).
Sendo assim, mais nada precisaria ser dito como demonstração de que, segundo o
catolicismo, Maria é tida por Co-redentora das nossas almas; o que, além de
demonstrar quão excelso é o marianismo no catolicismo (Maria é nossa
Co-redentora!), deixa claro que essa doutrina, embora ainda não seja dogma, já
é verdade de fé católica, universalmente proclamada e defendida pelos clérigos,
bem como aceitas pelos fiéis leigos. Todavia, vejamos mais esta transcrição:
[...] “ela cooperou na obra do Salvador para a
restauração da vida sobrenatural das almas [...]. Por isso a Bem-aventurada
Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora,
Adjutriz, Medianeira”. [51]
Ora, se Maria é tudo isso, conjeturamos que os católicos que pleiteiam junto a
seus mentores espirituais que ela seja definida solenemente como Co-redentora,
não estão querendo demais. Aliás, o que eles querem que seja solenizado, já
existe como doutrina universalmente admitida e pregada pelos clérigos
católicos, visto que, como dito, a Enciclopédia Católica (em inglês)
diz, com todas as letras, que Maria é Co-redentora da humanidade. Ademais,
outras literaturas oficiais da Igreja Católica, também afirmam sem rodeios, que
ela é o equivalente a isso. Obviamente, afirmar que ela “cooperou na
obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas”, como o
sustenta o Compêndio do Vaticano II, é o mesmo que chamá-la de
Co-redentora. Quem coopera na realização de uma obra é, inegavelmente, co-autor
da mesma. Logo, a solenização desse ensino será um novo dogma, não uma nova
doutrina. Nada falta para que solenizem essa doutrina, a não ser a boa vontade
do clero, que deve estar esperando o momento oportuno.
Já dissemos: “O que eles querem que seja solenizado, já existe como doutrina
universalmente admitida”. Talvez o respeitável leitor pergunte: "E há
mesmo alguma diferença entre doutrina universalmente admitida, e aquela definida
solenemente? Se sim, em que consiste tal diferença?" Primeiro,
confirmemos a existência da diferença, depois demonstremos em que consiste a
dita diferença.
Confirmando
a existência da diferença: A Revista
das Religiões op. cit., após informar que “mais de 6 milhões de fiéis de
148 países solicitam que o Papa João Paulo II promova Maria ao mais alto cargo:
o de Co-redentora”, acrescenta: “Outro título que está sendo analisado pelas
altas autoridades da Igreja é o de Medianeira, segundo o qual Maria serve de
mediadora entre Jesus e a humanidade”.[52] Um leitor não
familiarizado com temas e termos teológicos, normalmente pensa, após ler um
texto desses, que até então a Igreja Católica ainda não prega que Maria seja
Co-redentora e Mediadora, já que tais títulos ainda estão, segundo a Revista
das Religiões, sendo analisados pela cúpula da Igreja. Mas é ledo
engano. A Igreja Católica já prega abertamente que Maria é Co-redentora e Medianeira.
Essa doutrina consta até da Enciclopédia Católica e do Catecismo da
Igreja Católica, como já demonstramos. Recapitulando: [...] “demonstram...
sua posição como Co-redentora e Mediadora” [...] (ANKERBERG e WELDON, 1993:68,
op. cit.). [...] “Maria é invocada na Igreja sob os títulos de advogada,
auxiliadora, protetora, medianeira;”[53]
Em
que consiste a diferença: Talvez o
leitor pergunte: “Que falta ainda, já que essas doutrinas (de Maria como
Co-redentora e Mediadora) constam até da Enciclopédia Católica, do Catecismo
da Igreja Católica, e do Compêndio do Vaticano II, elaborados pelas
altas autoridades da Igreja? Em que consiste a diferença?" Resposta: Uma
doutrina católica pode constar até dos catecismos e outras obras oficiais dessa
Igreja, sem ser definida solenemente, ou seja, sem ser dogma. A criação de um
dogma, não significa a criação de uma nova doutrina, mas sim, uma ratificação
solene de um ensino previamente estabelecido - não raramente, há séculos -, no
intuito de torná-lo mais firme. Por exemplo, é sabido por todos que a crença de
que Maria foi virgem antes, durante e após o parto, já tem quase dois mil anos
de existência. Essa tese foi defendida por Santo Agostinho (354-430 a .D) e confirmada por
Santo Tomás de Aquino (1225-1274
a .D) .[54] Entretanto, há o seguinte
comentário de rodapé em uma Bíblia católica, como nota explicativa referente a Mateus,
cap. 1, v. 25:
Mateus afirma a virgindade de Maria antes do parto.
Que ela tenha permanecido virgem no parto e depois dele, nós o sabemos pelos
santos Padres e pela Igreja, e é verdade de fé católica, isto é, universalmente
admitida, embora ainda não tenha sido definida solenemente. [55]
No caso acima, definir solenemente nada mais é que o Papa ratificar
ex-cátedra, com celebração, uma doutrina já admitida, da qual, daquele instante
em diante nenhum católico típico duvida (e nem pode duvidar, sob pena de
excomunhão), já que é impossível que esteja errada, visto ter sido sancionada
solene e extraordinariamente pelo infalível sucessor de São Pedro: o Papa. Tal
ensino torna-se assim, dogma, isto é, ponto indiscutível e irreversível. É como
se o clero católico dissesse que há dois tipos de verdade: verdade
universalmente admitida, e verdade definida solenemente.
Das muitas coisas que a Igreja Católica diz sobre Maria, só três são dogmas: 1)
que ela é Mãe de Deus; 2) que ela é Imaculada; e 3) que, por ser
imaculada, seu corpo não apodreceu no sepulcro, mas foi elevada ao Céu em corpo
e alma, o que chamam de Assunção de Maria. Quanto à sua perpétua
virgindade, tão difundida e defendida pelos clérigos, esta é apenas uma
“verdade de fé católica [...] universalmente admitida [...] não [..] definida
solenemente. Veja mais duas provas de que realmente há, de acordo com o clero
católico, notável diferença entre verdade universalmente admitida, e verdade
definida solenemente:
Quando a Igreja define um dogma, como o da Imaculada
Conceição de Maria, ela está apenas proclamando de modo solene e extraordinário
tal ou tal verdade já professada pelo povo de Deus. [56]
Ainda o Padre Bettencourt, discorrendo sobre a devoção a Maria, definiu o que
ele chamou de “os três dogmas marianos”, como sendo os seguintes:
“...Maternidade Divina...Imaculada Conceição...Assunção gloriosa aos céus...”
(BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Católicos Perguntam. Op. cit., p. 103).
Como o leitor viu, ele falou de “os três dogmas marianos”, e não de “três dos
dogmas marianos”. Logo, os dogmas marianos são apenas três. E como ele os
enumerou, sem mencionar a suposta Perpétua Virgindade de Maria, salta à
vista que essa crença ainda não é um dogma definido solenemente.
Bem, fomos informados há pouco, pelo Padre Dom Estêvão Bettencourt, que de fato
“houve por volta de 2000 [...] um movimento para pedir ao Santo Padre [...] que
definisse Maria como Co-redentora” [...]. E que [...] “Tal campanha [...] não
surtiu efeito, pois se tratava de um título pouco fundamentado na
Tradição.” É digno de nota, porém, que esse ensino que, nas palavras de Dom
Estêvão, é pouco fundamentado, conste até da Enciclopédia católica,
do Catecismo da igreja católica e do Compêndio do vaticano ii. Se
há pouco fundamento, por que essa doutrina foi inserida nas obras oficiais da
Igreja? Talvez a resposta seja: Se há pouco fundamento, então há algum
fundamento, visto que pouco não é sinônimo de zero. E é sobre este pouco
fundamento que apoiamos esse ensino. Essa crença católica não está bem
fundamentada, mas também não está sem fundamento algum.
Bem, certamente, a essa altura já está claro para o leitor, que, segundo o
catolicismo, há distinção entre verdade de fé e dogma. Uma verdade
de fé, universalmente admitida, pregada e defendida não só pelos
leigos, mas também por todos os clérigos, e inclusive oficialmente, isto é,
através de livros oficiais da religião católica (como é o caso do Catecismo
da igreja católica), pode um dia virar ou não dogma. Talvez você
pense assim: "Mas não há, etimologicamente, nenhuma diferença entre doutrina
de uma religião e dogma". Sim, não há mesmo. Mas na Igreja
Católica, estes termos recebem definições particulares. "E pode?",
você talvez questione. "Tem podido", respondo-lhe eu. Não se esqueça
que a casa é deles.
2.6.3.
O marianismo do Padre Rahm
Referindo-se ao Padre jesuíta, Harold J. Rahm, fervoroso mariano e inflamado
carismático, o Instituto Cristão de Pesquisas registrou algo que estarrece os
protestantes:
No
seu livro “Sereis Batizados no Espírito Santo”, Rahm [...] diz que a única
devoção de Jesus na terra foi a sua devoção a Maria e essa ‘continua sendo a
devoção de Jesus no céu’ (p. 41). No cúmulo da idolatria, Rahm diz: “Aleluia a
Maria”... (p. 196). Ora, ALELUIA, que quer dizer “Louvai a Deus”, por seu
próprio sentido, só pode ser atribuída a Deus.[57]
Até Jesus é devoto de Maria? Ele o foi na Terra, e agora o é no céu? A
exclamação de louvor Aleluia, que significa louvai a Jeová, pode
ser endereçada a Maria? Bem, os protestantes vêem quem isso diz, como herege digno
de ser excomungado. A Igreja Católica, porém, não pensa assim, já que a Igreja
Romana não impetrou nenhum anátema sobre o Padre Rahm. Bem, é oportuno
inquirirmos: Maria já foi mesmo reconduzida a seu devido lugar, e Jesus já
voltou a ser o centro das devoções, como dito há pouco pelo Padre Cechinato? A
Santíssima Trindade já está mesmo acima de Maria, segundo a Teologia católica?
Posicionar-se quanto a isso, não é apenas uma questão de fé ou de ponto de
vista, já que a razão nos é comum. Logo, estas questões, tanto na ótica
católica, quanto na ótica evangélica, merecem destemida reflexão, profunda
investigação, e ousado posicionamento, já que os temas religiosos não podem ser
tratados com covardia e leviandade, segundo apregoa as duas religiões, cujas crenças
sobre a mãe de Jesus, são aqui expostas e confrontadas.
2.6.4.
A cautela de um teólogo católico
Bem, já informei que Maria é, segundo a Igreja Católica, nossa Co-redentora, e
Mediadora entre Deus e nós. E há quem empreenda transformar essas doutrinas em dogmas. Mas o teólogo
católico Afonso Murad, desaconselha, nestes termos: “Um novo dogma significa
mais um obstáculo para o ecumenismo. A tentativa de colocar Maria num nível divino
muito alto cria um problema de diálogo entre o Catolicismo e as outras
religiões cristãs” (Revista das Religiões, op. cit., página 28. Grifo
nosso). Claro que, como bom jesuíta que é, o senhor Murad deixa transparecer
que sua principal preocupação não é com a verdade, e sim, com o avanço do
ecumenismo. Mas, de um jeito ou de outro, o certo é que ele não negou que Maria
está, de fato, sendo colocada “num nível divino muito alto”. Certamente,
o leitor não ignora que "colocar Maria num nível divino..." é
o mesmo que elevá-la ao posto de Deusa. A palavra divino, neste
contexto, designa isso. Logo, ele também reconhece que de fato Maria está sendo
tratada como se fosse uma Deusa. Portanto, não estou só em minhas conclusões, e
isso me parece relevante.
NOTAS REFERENTES AO
CAPÍTULO II
34 CECHINATO, Luiz. Os vinte séculos de
caminhada da Igreja. 4 ed. Petrópolis: Vozes. 2001, p. 428, grifo nosso.
35 Compêndio do Vaticano II. pp.
111-112. Op. cit.
36 GOMES, José Gonçalves. “Mudança de
paradigma: cristocentrismo versus mariocentrismo na renovação carismática”. Defesa
da Fé. Jundiaí: Instituto Cristão de Pesquisas (ICP), 68, mai. 2004, pp.
12-15, grifo nosso.
37 LIGÓRIO, Afonso Maria de. Glórias de
Maria. 19 ed. Aparecida do Norte: Santuário. 2005, p. 190.
38 VALE, Agrício do. Por que Estes Padres
Católicos Deixaram a Batina? Curitiba: A. D. Santos Editora. 2 ed., 1997,
pp. 90–92
39
BOYER, Orlando. Heróis da fé. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das
Assembléias de Deus - CPAD. 31 ed., 2005, p. 15. Grifo nosso.).
40 (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia.
São Paulo: Ática. 13 ed., 1ª impressão, 2003, p. 13 ).
41 GONÇALVES, José. “A verdade sobre Maria
mãe de Jesus”. Resposta Fiel. São Paulo: Casa Publicadora das
Assembléias de Deus (CPAD), 17, set/out/nov. 2005, pp. 20-25.
42 Ibidem
43 MAGALHÂES FILHO, Glauco Barreira. “A
renovação católica carismática e o Espírito Santo”. Defesa da Fé.
Jundiaí: ICP – Instituto Cristão de Pesquisas, 12, mai/jun. 1999, pp. 10-23.
44 FERREIRA, Douglas. “Tafarel, tetracampeão
de Cristo”, Folha Universal, 5-11, mai, 1996.
45 DUARTE, Leneide. “A mulher na igreja, de
Eva à Virgem Maria”. O Globo, Rio de Janeiro: 28 ago. 1998, p. 7.
46 JOINER, Eduardo. Manual Prático de
Teologia. Rio de Janeiro: Central Gospel. 2004, p. 247.
47 CENTRO DE PESQUISAS RELIGIOSAS. “O dogma
da imaculada conceição de Maria” (panfleto). Teresópolis: 1996, p. 2.
48 BITTENCOURT, Estêvão. “Polêmica cega”. Pergunte
e Responderemos. Rio de Janeiro, Lúmen Christi, 44, mar. 2003, pp.
136-138, grifo nosso.
49 SENA NETO, José Barbosa de. Confissões
Surpreendentes de um ex-padre. Niterói: Ados Ltda. 2004. P. 56. O grifo não
é nosso.
50 ZIGLIO, Anapaula. “Verdades de fé”. Revista
das religiões. São Paulo: Abril. Edição Especial, op. cit., pp. 28-29.
51
Compêndio do Vaticano
II. Op. cit., p. 109.
52 ZIGLIO, Anapaula. “Verdades de fé”. Revista
das religiões. São Paulo: Abril. Edição Especial, op. cit., pp. 28-29.
53 Catecismo da igreja católica. Op.
cit., p. 274, grifo nosso.
54 GONÇALVES, José. “A verdade sobre Maria
mãe de Jesus”. Resposta Fiel. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
das Assembléias de Deus (CPAD), 17, set-out-nov. 2005, pp. 20-25.
55 Bíblia Sagrada. 9 ed. Trad. Padre
Matos Soares. São Paulo: Paulinas, 1981. Revisão de dom Mateus Rocha, grifo
nosso.
56 BITTENCOURT, Estêvão. “Polêmica cega”. Pergunte
e responderemos. Rio de Janeiro, Lúmen Christi, 44, mar. 2003, pp.
136-138, grifo nosso.
57 MAGALHÂES FILHO, Glauco Barreira. “O que
é a renovação católica carismática”. Defesa da fé. Jundiaí: Instituto Cristão
de Pesquisas (ICP), 11, mar/abr. 1999, pp. 12-23.
CAPÍTULO III
OS HONORÍFICOS
TÍTULOS DE MARIA
3.1. Mãe de Deus
A literatura oficial da Igreja Católica confere a Maria o título de Mãe de
Deus.[58] Esse título, que remonta ao século III como vimos
no capítulo I [1.2.2]), foi confirmado no Concílio de Calcedônia datado do ano
451 d.C. O raciocínio é: Jesus é Deus, e Maria é sua Mãe; logo, ela é Mãe de
Deus. Que dizem os evangélicos sobre isso? Resposta: Há controvérsia entre os
protestantes acerca deste assunto. Em nossas pesquisas, deparamos com o
inesperado: um evangélico que destoa do parecer dominante, a saber, ele diz que
Maria é mãe de Deus. Vejamos primeiro essa idéia destoante, e depois o parecer
dominante.
3.1.1.
Posição destoante
Como deixamos claro acima, deparamos com um só protestante que pensa diferente
da maioria dos evangélicos. Talvez haja outros, mas ainda não os detectei.
Vejamos agora o seu argumento em defesa dessa sua tese:
Muitos
evangélicos têm objetado ao uso do termo “mãe de Deus”, como se o Concílio de
Calcedônia estivesse ensinando que Maria é mãe da Trindade. Nada está tão longe
da verdade quanto essa errônea interpretação. O título “mãe de Deus” (Theotókos,
literalmente “portadora de Deus”) não foi dado em razão de Maria, mas em razão
de Jesus Cristo. A ênfase está nele, não nela. O título quer dizer que ele é
Deus, o que expressa uma verdade bíblica crucial. Maria portou em seu ventre
aquele que, com o Pai e com o Espírito Santo, é um só Deus, agora e sempre. Ele
fez-se homem sem deixar de ser Deus.
O
termo Theotókos foi inspirado nas seguintes palavras de Isabel, mãe de
João Batista, dirigidas a Maria: “Mas por que sou tão agraciada, a ponto de me
visitar a mãe de meu Senhor?” (Lc 1.43). O termo Senhor aponta
para a divindade de Jesus Cristo. [...] Aquele que estava no ventre de Maria, a
quem ela amamentou e de quem cuidou, era o “Deus conosco” (Mt 1.23), verdadeiro
Deus e verdadeiro homem. O termo Theotókos aponta para essa confissão de
fé cristológica.
Cabe
lembrar que o termo “Deus” pode ser aplicado a cada pessoa da Santíssima
Trindade. Sendo assim, se Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não há
impropriedade em afirmar que Maria foi, de fato, mãe de Deus, ou seja, de Deus
Filho, o Verbo encarnado. Se ficarmos só nisso, não estaremos violando nenhum
preceito bíblico. [59]
3.1.2.
Posição dominante
Aos evangélicos parece que o silogismo acima não resiste a um confronto com a
Bíblia. Dizem que embora as premissas sejam verdadeiras (realmente a Bíblia diz
que Jesus é Deus, e que Maria é, de fato, sua mãe), a conclusão é falsa,
considerando que Jesus possui duas naturezas: divina e humana. Jesus é
Deus-homem. Crêem, pois, renomados teólogos protestantes que as premissas em
questão (posto que na pessoa de Jesus se dá a união hipotástica) não nos
impedem de concluirmos que Maria não é Mãe de Deus, mas apenas a genitora do
lado humano do Senhor Jesus. O fato de Isabel chamar Maria de “mãe do meu
Senhor”, não demove os evangélicos da conclusão de que Maria não é mãe de Deus.
E argumentam em tom refutatório, conforme os três exemplos a seguir apensados:
a) Se esse silogismo
estivesse certo, poderíamos dizer:
Se Jesus dormia (Mt 8.24,25) e Ele é Deus, então Deus
dorme; se Jesus disse que Ele de si mesmo não podia fazer coisa alguma (Jo
5.30), e Ele é Deus, então Deus não pode fazer nada; [...] se Jesus não estava
em Betânia quando Lázaro morreu (Jo 11.15) e Ele é Deus, então Deus não é
onipresente; se Jesus morreu (1Co 15.3) e Ele é Deus, então Deus não é imortal.
Obviamente toda essa argumentação estaria errada, pois, como sabemos, a Bíblia
afirma que Deus não dorme, tudo pode, é onipresente, imortal. [...]
Tanto os
católicos, quanto os evangélicos reconhecem que Jesus é verdadeiro Deus e
verdadeiro homem. Ambos crêem que todos os textos bíblicos que afirmam que
Jesus era portador das mesmas limitações nossas, na verdade se referem ao Seu
lado humano, e não à Sua Divindade. Assim fica claro que católicos e
evangélicos não ignoram que Jesus é portador de duas naturezas: humana e
divina. Deste modo, Maria pode ser mãe de Jesus sem ser Mãe de Deus. Ela é mãe
do lado humano do Senhor, e não da Sua Divindade [...] (SANTANA, 2002:29-30,
op. cit.).
b)
Como
o filho não pode vir primeiro que a mãe, logo, Maria não é mãe de Deus. Se
Maria é mãe de Deus, José é padrasto de Deus; Tiago, José, Simão e Judas são
irmãos de Deus; Isabel é tia de Deus; João Batista é primo de Deus, e Eli é avô
de Deus. [60]
c)
A
Bíblia diz que Deus é eterno (Sl 90. 2; Is 40. 28), e, como tal, não tem
começo. Como pode Deus ter mãe? Há contra-senso teológico nessa declaração.
[...] isso pressupõe a divindade de Maria [...]. A Bíblia esclarece que Maria é
mãe do Jesus homem e nunca mãe de Deus (At 1. 14). [61]
Como dissemos, os protestantes cremos que Maria só é mãe da humanidade de
Jesus. A Igreja Católica, porém, prega que Maria é mãe não só da natureza
humana de Jesus, mas também de sua divindade: [...] “Virgem Maria, Mãe de Deus e
de nosso Senhor Jesus Cristo’” [...]. [...] “Mãe de Deus e do
Redentor”. [...] "Mãe de Deus, mãe de Cristo e mãe dos homens” [...].[62]
Atente para a inserção da conjunção aditiva “e”, e observe as preposições “de”
e “do”, assim como para o emprego das vírgulas, separando os elementos. “Mãe de
Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo”; “Mãe de Deus e do
Redentor”; “Mãe de Deus, mãe de Cristo e mãe dos homens”. Isto prova que
a Igreja Católica não prega apenas que Maria, por ser mãe de Jesus, pode, de
certo modo, ser chamada de Mãe de Deus. Isso bastaria para torná-la alvo das
ponderações protestantes, mas a coisa não pára por aí. O catolicismo sustenta
que Maria é Mãe de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo. Que quer dizer
com isso a Igreja Católica? Parece-me óbvio, que com essas declarações, a
Igreja Católica não quer dizer que Maria seja mãe não só do Filho, mas também
do Pai. Certamente, a idéia que o clero católico quer passar com essas
afirmações, é que Maria é mãe não só da natureza humana de Cristo, mas também
de Sua divindade.
O que teria levado o irmão Aldo à destoante conclusão que ora
consideramos? Bem, o termo Theotókos, a rigor não significa Mãe
de Deus, mas sim, portadora de Deus. Isto significa que Theotókos
não era tão inusitado quanto Mãe de Deus, em Português. Essa é uma
tradução livre, deveras inusitada. A isso aquiescem renomados autores
evangélicos, como, por exemplo, os apologistas do Instituto Cristão de
Pesquisas - ICP -, que disseram: "O título Thetókos [...] era menos
assustador do que [...] Mãe de Deus" (ICP Editora. Série Apologética.
v. I, op. cit., p. 56).
Alguns têm objetado que não reconhecer Maria como Mãe de Deus induz à
negação da Divindade de Cristo, e, por conseguinte, a uma Cristologia
deficiente. Mas à maioria dos evangélicos, a verdade parece diametralmente
oposta. É a atribuição da maternidade divina a uma mulher, que minimiza (ou
melhor, tenta minimizar) o nosso grande Deus. Além disso, somos nós (de quem se
suspeita uma Cristologia deficiente, por negarmos que Maria seja Mãe de Deus)
que nunca pusemos Maria acima da Santíssima Trindade, como o clero católico
confessou que o fez, e eu provei que ainda o faz (vimos isso no capítulo
II deste livro). Nós nunca dissemos que Maria é a "única
advogada dos pecadores”, a "verdadeira medianeira entre Deus e os
homens”, etc., como o catolicismo o faz. Ora, Cristologia deficiente é a
que exibem os que atribuem a uma descendente de Adão, as prerrogativas do
Senhor Jesus. Ou dizer que Maria é nossa única Advogada, assim como a
verdadeira medianeira entre Deus e os homens, não é conferir-lhe atributos
privativos do Senhor Jesus? Pensem nisso os que ainda pensam!
3.2. Nossa Senhora
Embora a Bíblia diga que Jesus Cristo é o nosso único Senhor (1 Coríntios,
cap. 8, v. 6; Judas, v. 4), não é novidade para ninguém que os clérigos
católicos pregam que Maria, a mãe de Jesus, é Nossa Senhora. Isso, na ótica
protestante, é conflitante, já que a Bíblia nos é base comum.
Relembramos que cada santo católico tem sua função definida, e área física (ou
ponto geográfico) de ação delimitada. Santo Antônio é casamenteiro, São José é
o padroeiro da boa morte, São Cristóvão é condutor dos motoristas, Santa
Edwiges é a santa que socorre os endividados, São Sebastião é o padroeiro do
Rio de Janeiro, etc. Mas, como se crê que Maria é Mediadora de todas as graças,
mais de dois mil títulos lhe são conferidos: “Bendita entre todas as mulheres
desde a era de Cristo, Maria é clamada por fiéis do mundo inteiro sob mais de
dois mil nomes”.[63] Alguns desses títulos são, deveras,
inusitados. Veja estes três exemplos:
a)
Nossa Senhora do Ó. Neste caso, “ó” é um vocativo. “Nas rezas, os versos
iniciam-se sempre com vocativos como ‘Ó Sabedoria’ ou ‘Ó Sol Nascente’. Daí,
provavelmente, vem o nome ‘do Ó’”;[64]
b)
Nossa Senhora do Carmo.“Carmo” é o mesmo que “Carmelo” para os íntimos
dessa santa.[65] Seria Nossa Senhora do Carmelo, mas o
carinho, a intimidade, e a devoção de seus devotos, tornaram-na conhecida por
Nossa Senhora do Carmo: [A devoção a ela começou no século 12, quando] “um
grupo de religiosos construiu no Monte Carmelo, na Palestina, uma capela em
homenagem a Nossa Senhora”; [66]
c)
Nossa Senhora Desatadora de Nós. Aqui “Nós” não é pronome pessoal, e
significa plural de nó, que, por sua vez, simboliza o pecado. Esses “nós
simbolizariam o pecado original e os pecados cotidianos. [...] Desatá-los seria
a função de Maria”.[67]
Questionando o fato de os católicos atribuírem senhorio a Maria, perguntam os
protestantes, incisivamente:
Será que o Senhorio exclusivo de Cristo não é
alterado, quando o extendemos a uma mulher ou a qualquer outra criatura, por
maior que seja a envergadura da mesma? Se o fato de Maria ter sido uma grande
mulher fizesse dela Nossa Senhora, não seria razoável concluirmos que Moisés,
Enoque, Elias, Elizeu, Paulo, Pedro, João, e outros grandes vultos do povo de
Deus, são Nossos Senhores? Se nenhum grande homem pode ser Nosso Senhor, por
que uma grande mulher poderia ser Nossa Senhora? Será que chamar Maria de Nossa
Senhora não equivale a endeusá-la? Estaremos mesmo faltando com o devido
respeito para com Maria, se ao invés de “Nossa Senhora”, a chamarmos de nossa
conserva? Se Maria é Nossa Senhora, então podemos e devemos servi-la; mas como
conciliarmos isto com Mt 6:24 que diz que não podemos servir a dois senhores?
Veja também 1Sm 7:3-4. Se temos mesmo essa Senhora, por que a Bíblia não o diz?
Será que Deus se esqueceu de mandar registrar isso? (SANTANA, 2002:27-29, op.
cit.).
Crêem os protestantes que é pecado chamar Maria de senhora? Como pronome de
tratamento, não. Veja a transcrição abaixo:
Talvez o leitor pense que estamos querendo dizer que é
pecado chamar Maria de senhora. Mas é ledo engano. Se Maria ainda estivesse
entre nós, certamente confabularíamos mais ou menos assim:
__Bom dia, irmã Maria! Como vai a senhora?
__Eu vou bem, graças ao Nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo. E o senhor?
__Graças a Deus, não tenho de que reclamar. Todavia,
não esqueça de mim em suas orações.
__Faça o mesmo por mim, meu irmão, pois também estou
muito necessitada das orações dos Santos.
__Dona Maria, tenho que me despedir da senhora agora,
porque senão, faltarei a meus compromissos agendados para hoje. Dê um abraço no
irmão Zezinho e nos filhos com os quais o Senhor os brindou.
__Obrigada! Beijos para sua esposa e filhos.
__Obrigado! Até a próxima.
Veja o leitor que no fictício diálogo acima, chamamos
a Maria de senhora, e ela, por sua vez, nos chamou de senhor. Mas nós o fizemos
usando iniciais minúsculas, pois com estes pronomes de tratamento, tão-somente
exteriorizamos o respeito recíproco que haveria entre nós, caso fôssemos
contemporâneos. Porém, está claro que não é neste sentido que os católicos
chamam a Maria de Senhora. Atente para o fato de que embora sejam muitas as
mulheres de peso na Bíblia (Sara, Hulda, Débora, Abigail, Ana [mãe de Samuel],
Ana [contemporânea do infante Jesus] e outras), só Maria é Nossa Senhora,
segundo eles. Ademais, usam iniciais maiúsculas. Isto, dentro do contexto
religioso, só seria cabível se ela não fosse uma criatura à parte de Deus, mas
sim, integrante da Divindade (Ibidem).
3.3. Imaculada
Como já dissemos, tais quais os católicos, os evangélicos pregam que Deus
escolheu Maria para ser a mãe virginal de Jesus; e que isso fez dela uma mulher
incomum, tal a singularidade de sua experiência. Daí também confessarmos que
ela é bem-aventurada, bendita entre as mulheres e muito agraciada por Deus. Mas
param aqui, pois creem que Maria era uma filha Adão, e, portanto, portadora do
“vírus” do pecado, comum a toda a raça humana. Adão e Eva, nossos primeiros
pais, por terem desobedecido a Deus, legaram a todos os seus descendentes o que
se convencionou chamar de pecado original, isto é, a natureza
pecaminosa. Quanto a isso, crêem os evangélicos que Cristo é a única exceção: “Todos
pecaram, mesmo a mãe de Jesus (Rm 5. 12-15)” (Bíblia Apologética,
2000:712, op. cit.). Disso os católicos divergem, pois sustentam que há duas
exceções: Jesus e Maria. O Vaticano II manteve que Maria foi [...] “como
que plasmada pelo Espírito Santo e formada nova criatura. Dotada desde o
primeiro instante de sua conceição dos esplendores de uma santidade
inteiramente singular” [...]. E assim “preservada imune de toda mancha da culpa
original” [...].[68] Porém, quem está certo? Bem, a fé
transcende às fronteiras da razão humana, mas por isso mesmo, certamente não
fica aquém do bom senso. E com isso concorda o Padre Bettencourt, que disse:
[...] “nem mesmo a mais férvida prática religiosa pode se abstrair de uma base
racional”.[69] Apresento, pois, as respectivas bases sobre as
quais os católicos e os evangélicos apóiam suas convicções diametralmente
opostas acerca do dogma católico conhecido por da impecabilidade de Maria, para
que arrazoando infiramos com conhecimento de causa.
3.3.1.
Bases católicas
Os católicos alicerçam-se nas seguintes bases:
A)
Infalibilidade papal
Um relevante dogma da Igreja Católica é a suposta infalibilidade papal, segundo
a qual o Papa é infalível quando, em matéria de fé e costume, pronuncia
ex-cátedra. Neste caso, crê-se ser impossível que Sua Santidade se equivoque,
visto que Cristo o dotou de carisma de inerrância. Inerrância esta tão perfeita
e confiável quanto o próprio depósito da Revelação divina, isto é, a Bíblia e a
Tradição. Isso dá ao católico uma segurança que só vendo. A seguir, algumas
amostras da fé católica na infalibilidade papal:
a) Diz o Catecismo da Igreja Católica
Para manter a Igreja
na pureza da fé transmitida pelos apóstolos, Cristo quis conferir à sua Igreja
uma participação na sua própria infalibilidade, ele que é a verdade. Pelo
“sentido sobrenatural da fé”, o povo de Deus “se atém indefectivelmente à fé”,
sob a guia do Magistério vivo da Igreja. A missão do Magistério está ligada ao
caráter definitivo da Aliança instaurada por Deus em Cristo com seu Povo; deve
protegê-lo dos desvios e dos desfalecimentos e garantir-lhe a possibilidade
objetiva de professar sem erro a fé autêntica [...]. Para executar este
serviço, Cristo dotou os pastores de carisma de infalibilidade em matéria de fé
e de costumes [...] Goza desta infalibilidade o Pontífice Romano, chefe do
colégio dos Bispos [...]. Esta infalibilidade tem a mesma extensão que o
próprio depósito da Revelação divina. [70]
b) Diz o padre Luiz Cechinato
[...]. “o papa,
quando fala em lugar de Cristo sobre as verdades de nossa salvação, não pode
errar, porque ele tem a assistência do Espírito Santo, e porque Jesus assume em
seu próprio nome o que o papa decide. Assim disse o Senhor” [...] (CECHINATO,
2001:358, op. cit.).
c) Diz o padre Álvaro Negromonte
Um
bom católico nunca põe em dúvida a autoridade da Igreja. Antes, procura
ser cuidadoso da obediência que lhe deve. Cuidadoso e ufano. Vale a pena obedecer
a quem manda com a mesma autoridade de Cristo e faz leis tão sábias.
Assistidos
pelo Espírito Santo, o Papa e os bispos têm uma visão que nos falta nos
negócios da Igreja. As suas ordens devem ser obedecidas e não discutidas.
Quando nossos pontos de vista não coincidirem, será por deficiência nossa.
[71]
d)
Disse o Padre Garrido
O Pastor Hugh P. Jeter, em
seu excelente livro de refutação às heresias da Igreja Católica, registrou: “O
sacerdote não pode raciocinar por si próprio. Um sacerdote espanhol, M. Garrido
Aladama, declarou que se um professor diz a um estudante de seminário que o
branco é preto, a palavra do professor deve ser tomada como sagrada, e o aluno
deve assumir que a sua própria vista o enganou” (JETER, 2000:66).
Antes de passarmos ao próximo subcapítulo, damos ciência de que os protestantes
não crêem na alegada infalibilidade papal. Aliás, apoiados em Tiago,
cap. 3. v. 2, que nos diz que "todos tropeçamos em muitas coisas",
não admitem que exista homem infalível. Conseqüentemente, a inerrância
atribuída ao Papa ou a quem quer que seja, não é crença comum a católicos e
evangélicos (JETER, 2000:59-60. op. cit.).
B) Os Pais da Igreja
No Compêndio do Vaticano II, consta que nos Santos Padres (refere-se aos
líderes dos cristãos dos primeiros séculos do cristianismo) prevaleceu “o
costume de chamar a Mãe de Deus toda santa, imune de toda mancha de pecado,
como que plasmada pelo Espírito Santo e formada nova criatura”, bem como
“Dotada desde o primeiro instante de sua conceição dos esplendores de uma
santidade inteiramente singular” [...]. E assim “preservada imune de toda
mancha da culpa original” [...].[72] Mas do fato de o clero
católico confessar que essa crença prevaleceu entre os Padres da Igreja,
se nos aflora a idéia de que não havia unanimidade entre eles quanto a isso. E
se não eram unânimes, pesquisemos para sabermos de que lado está a verdade.
Nenhuma unanimidade constitui prova de veracidade, mas onde há divergência há
inegável inexatidão, já que não há verdades opostas entre si. E realmente não
são poucas as autoridades da Igreja Católica que se opuseram à crença de que
Maria não tinha a natureza pecaminosa hereditária. Veja estes exemplos:
a)
Santo Agostinho (Bispo de Hipona e Doutor da Igreja): “O corpo de Maria
foi formado por geração ordinária. Maria morreu por causa do pecado de Adão,
pois que ela era também filha”; [73]
b)
Papa Gregório, o Grande (Santo Doutor da Igreja). Disse São Gregório:
“Pode compreender-se nessa passagem [ele se refere a Jó, cap. 14, v. 4]
que o santo Jó, chegando com o seu pensamento até a encarnação do Redentor, viu
que só Ele no mundo não foi concebido de sangue impuro, nascendo de uma virgem,
para não ter uma concepção impura [...] Só esse foi verdadeiramente puro na sua
carne”; (JOINER, 2004:246, op. cit.);
c)
Santo Anselmo: Ele disse que Maria “não só foi concebida, mas nascida em
pecado; como todas as pessoas, ela também pecou em Adão” (Ibidem);
d)
Santo Tomás de Aquino: Vimos no capítulo II (2.5) que Santo Tomás de
Aquino, Doutor da Igreja, também acreditava que Maria pecou em Adão; que,
portanto, não era perfeita; por cujo motivo careceu de um Salvador; e que o
encontrou em Cristo;
e)
Papa Inocêncio III: “Eva foi gerada sem pecado, mas gerou em pecado.
Maria foi gerada em pecado” (CESAR, 2004:27-28, op. cit.);
f)
Papa Leão I: Consta do importante documento intitulado Tomo de Leão,
que o Papa Leão I (São Leão Magno, Doutor da Igreja), Bispo de Roma entre os
anos 440-461, não cria que Maria tivesse sido isentada do pecado original.
Disse ele: “O Senhor tomou da mãe a natureza, não a culpa” (Bíblia
Apologética. 2000:1184, op. cit.). Logo, ele “não cria na Imaculada
Concepção de Maria, já que ele acertadamente diz que o Filho não herdou a culpa
da mãe” (Ibidem).
g)
Quando em 1849, o Papa Pio IX publicou uma encíclica e a enviou a seiscentos
bispos, pedindo-lhes sua opinião sobre sua intenção de solenizar mais esse
dogma, embora tenha obtido apoio da maioria, cinqüenta e dois disseram “que os
tempos não eram favoráveis à proclamação do dogma”, e quatro se manifestaram
contra (CESAR, 2004:28, op. cit.; e JOINER, 2004:247-248, op. cit.). Ora, só
até aqui já temos dez autoridades da própria Igreja Católica que
categoricamente disseram não crer na alegada pureza congênita que o catolicismo
atribui a Maria. E, não obstante essas opiniões contrárias, o Papa “Pio IX
[...], no dia 8 de dezembro de 1854, [definiu] o dogma da imaculada concepção”
(JOINER, 2004:248, op. cit.).
C)
Nas “palavras” de Maria
Segundo o Padre dom Francisco Prada, a certeza de que Maria era de fato
imaculada, se funda pelo menos em duas consistentes bases: a infalível
pronunciação papal e a ratificação da própria mãe de Jesus. Realmente consta da
História e dos anais da Igreja Católica que em 1854 o papa Pio IX elevou à
categoria de dogma a antiga crença na imaculada conceição de Maria; e que, após
isso, a própria mãe de Jesus, numa de suas supostas aparições, teria dito, na
França, à vidente Bernardete Soubirous que assim é. Veja a cópia a seguir:
[...] o pecado [...] submergiu toda a humanidade. Só a
Virgem Santíssima [...] conservou-se à tona dessas águas imundas do pecado
original. Foi o que decretou Pio IX, em 8 de dezembro de 1854.
[...]
A
palavra infalível de Pio IX viu-se corroborada pelo testemunho da
própria Mãe celeste que [...] assim falou à sua fiel confidente
Bernardete: "Eu sou a Imaculada Conceição".[74]
Mas os protestantes, inspirados no fato de que a Bíblia proíbe consultar os
mortos (Deuteronômio, cap. 18. v. 11), rechaça como falso, as supostas
aparições de Maria.
Obviamente, o leitor notou que das dez autoridades católicas supracitadas, que
rechaçavam como falso a suposta imaculada conceição de Maria, nem todos foram
dos primórdios do cristianismo. Logo, não citei apenas os chamados Pais da
Igreja.
3.4. Co-redentora
Maria, segundo o catolicismo, é co-autora da nossa salvação. Ela é coadjuvante
de Cristo na redenção dos pecadores. Foi para tanto que ela teve que:
3.4.1.
Morrer para nos salvar
Se somarmos a doutrina bíblica de que a morte é conseqüência do pecado (Romanos,
cap. 5. v. 12; 6. v. 23), à pronunciação da Revista das Religiões, segundo a qual a Igreja Católica não diz que
Maria não tenha morrido,,[75] é de se esperar que haja uma
exposição católica, justificando tal falecimento. E de fato o há.
Diferentemente dos evangélicos, segundo os quais, só Cristo morreu por nós, a Enciclopédia
Católica afirma categoricamente que Maria morreu para nos salvar:
Maria não estava sujeita à lei do sofrimento e da
morte, que são penas que se têm de pagar pelo pecado que está na natureza
humana. Embora ela soubesse essas coisas, as experimentou e as suportou por
nossa salvação (JETER, 2000:77, op. cit. citando a The Catholic Enciclopedia
[Enciclopédia Católica], p. 285).
John Ankerberg e John Weldon, também registraram às paginas 41 e 69 de Os
fatos Sobre o Catolicismo Romano, op. cit., que de fato esse ensino consta
da página 285 da Enciclopédia Católica. E o fizeram em tom refutatório.
E nisso foram ombreados pelo Pastor Jeter, que disse:: “Não há nenhuma base
escriturística para tal doutrina” (JETER, 2000:77, op. cit.).
3.4.2.
Ressuscitar dentre os mortos
Como os protestantes só se firmam na Bíblia, e esta silencia sobre a ressurreição
de Maria e sua assunção ao céu, essa crença não consta de seus catecismos e
manuais teológicos. A literatura católica, porém, garante que ela já
ressuscitou: a) Disse São Bernardo: “Ao terceiro dia após a morte de
Maria, quando os apóstolos se reuniram ao redor de sua tumba, eles a
encontraram vazia. O corpo sagrado tinha sido levado para o paraíso celestial”
[...] (WOODROW, 1966:26-27, op. cit., grifo nosso); b) disse Santo Afonso Maria
de Ligório:
[...] Jesus preservou o corpo de Maria da corrupção
depois da morte. Pois ser-lhe-ia desonroso corromperem-se as carnes virginais
de que ele se havia revestido. Para o Senhor seria um opróbrio, portanto,
nascer de uma mãe, cujo corpo fosse entregue à podridão (LIGÓRIO, 2005:242, op.
cit.).
3.4.3.
Ser assunta ao Céu
Um dos dogmas da Igreja Católica (do qual também divergem os evangélicos, por
não estar na Bíblia) intitula-se Assunção de Maria. Essa antiqüíssima
crença (que consta de um texto pseudo-epigráfico intitulado Passagem da
Bem-Aventurada Virgem Maria, elaborado no século IV) foi defendida por
Santo Agostinho (354 – 430), acatada com louvor por Santo Tomás de Aquino (1225
– 1274 d.C.), solenizada pelo Papa Pio XII, em 1º de novembro de 1950. Trata-se
da crença de que Maria, ao despertar-se de sua dormitação (ressuscitar?), foi
elevada ao Céu em corpo e alma. [76] Esse ensino consta
também do Catecismo da Igreja Católica
op. cit.: “[...] preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o
curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste [...].”[77]
Mas, rebatendo essa invencionice, bradam os evangélicos:
De onde vem mais esse ensino antibíblico? [...] da
literatura apócrifa [...]. Algum texto bíblico é invocado para corroborar essa
crença católica? Não, apenas Tomás de Aquino, que cita Agostinho, que por falta
de evidência bíblia usou de silogismos, e não a Bíblia: ‘Agostinho prova
com razões que a Virgem foi assunta ao céu em corpo, o que, contudo, não o diz
a Escritura’ (Suma Teológica, volume 8, pág. 3729)”.[78]
Certamente, por causa desse dogma [ele se refere ao
dogma da Imaculada Conceição de Maria], a Igreja viu-se obrigada a criar um
outro dogma quase cem anos depois, ou seja: O DA ASSUNÇÃO DE MARIA EM CORPO AO
CÉU. A Bíblia declara que o salário do pecado é a morte, e por causa do pecado
o homem morrerá e seu corpo se desfará na terra voltando ao pó donde era (veja Romanos
6:23 e Eclesiastes 12:7). A questão levantada, então, era: Poderia o corpo de
Maria corromper-se na sepultura após sua morte? Se de fato ela era imaculada
(sem pecado), poderia ela sofrer a penalidade do pecado? Por causa disso em 1º
de novembro de 1950 a
Igreja criou o dogma de que Maria foi assunta ao Céu em corpo, ou seja, seu
corpo não foi consumido na sepultura. E a Igreja ainda diz que tais dogmas são
revelações de Deus que devem ser cridas por todos os fiéis, e que, se não o
fizerem, naufragarão na fé e se condenarão a si mesmos! [...] Mas ... na
verdade nada disso aconteceu, pois não há evidência histórica nem teológica de
tais fatos.[79]
3.5. Bem-aventurada
Disse Maria: [...] “todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lucas,
cap. 1. v. 48). Os clérigos católicos crêem que estas palavras justificam o
culto a Maria: [...] “desde o Sínodo de Éfeso, o culto do povo de Deus a Maria
cresceu maravilhosamente [...] de acordo com suas próprias proféticas palavras:
‘Chamar-me-ão bem-aventurada todas as gerações’” [...].[80]
Mas, como a Bíblia chama todos os servos de Deus de bem-aventurados (Salmos
1, v. 1; 128, v. 1; Mateus, cap. 5, vv. 3-11; Apocalipse, cap.
22, v. 14, etc.), concluem os protestantes que estas palavras de Maria estão
sendo mal interpretadas pelo clero católico. Doutro modo, dizem eles, todos
seríamos igualmente dignos de culto, tendo que cultuarmos uns aos outros.
3.6. Bendita entre as mulheres
Disse Isabel a Maria: [...] “Bendita és tu entre as mulheres” [...] (Lucas,
cap. 1. v. 42). Muitos dos católicos com os quais confabulamos, serviram-se
deste versículo no intuito de com o mesmo justificarem o culto a Maria.
Entretanto, os protestantes se valem de um argumento similar ao adotado no
subcapítulo anterior (4.5), alegando que, segundo a Bíblia, Jael também era
bendita entre as mulheres (Juízes, cap. 5. v. 24, trad. de Matos
Soares). Aliás, todos os servos de Deus são benditos (Mateus, cap. 25.
v. 34; Deuteronômio, cap. 28. vv. 3-6). Concluem, pois, os protestantes
que ser bem-aventurada não é o mesmo que ser digna de culto. De outro modo, até
o autor destas linhas seria digno de culto (tanto direto, como indiretamente),
já que, como servo de Deus que é, considera-se um bendito entre os homens.
3.7. Rainha do Universo
Já exaramos que o
livro Glórias de Maria chama a mãe de Jesus de Rainha. Voltamos,
contudo, ao assunto para tecermos sobre o mesmo algumas considerações até então
omitidas. Essa doutrina consta também do Catecismo da Igreja Católica:
[...] “‘foi exaltada pelo Senhor como Rainha do Universo’”.[81]
ARMANI registrou
no seu já citado livro que, segundo a fé católica, Maria é Rainha dos
Confessores, Rainha dos Profetas, Rainha dos Patriarcas, e Rainha dos Apóstolos
(ARMANI, 2000:35). Aos protestantes, porém, parece estranho o fato de a Bíblia
silenciar sobre essa suposta entronização de Maria. Essa alegada coroação de
Maria como Rainha do Universo, Rainha dos profetas, etc., é, na ótica
evangélica, algo relevante demais para não ser registrado nas Escrituras.
Argumentam ainda que, segundo o Apocalipse, o apóstolo João foi arrebatado em
espírito ao céu, onde viu coisas maravilhosas, exceto a Rainha em seu trono de
glória:
O livro de Apocalipse refere-se aos salvos na glória e
ao ‘Cordeiro que foi morto’, no meio do trono [...], ao louvor das hostes
[...], aos doze fundamentos da cidade com os nomes dos doze apóstolos [...],
mas não faz sequer uma referência a Maria. (SENA NETO:2004:56,
op. cit., citando a revista Vinde, Niterói, 2, 23 out., 1997, p. 58-59.
Grifo no original).
Também o ex-Padre
Aníbal, em seu livro A Virgem Maria, faz veemente protesto a essa
suposta coroação e entronização de Maria como Rainha.[82]
3.8. Mãe dos fiéis
O Vaticano II mantém que Maria é a Mãe dos fiéis.[83] Em
defesa da crença nessa maternidade mariana, geralmente os católicos citam João,
cap. 19, vv. 25-27, onde Jesus diz que o apóstolo João era filho de Maria. Mas
os protestantes crêem que essa maternidade, muito longe de ser espiritualizada,
significa apenas que Jesus confiou sua mãe aos cuidados do discípulo João.
Apóiam essa opinião no fato de que “desde aquela hora o discípulo a recebeu em
sua casa” (João, cap. 19, v. 27). Eis a prova: [...] “MULHER, EIS AÍ O
TEU FILHO. Até mesmo na agonia da sua morte, Jesus é solícito pelo bem estar da
sua mãe. Indica “o discípulo a quem ele amava (certamente João) para cuidar
dela”.[84] A Bíblia de versão católica op. cit.,
traduzida em português pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo, traz, como
nota de rodapé, um texto que dá ao versículo em questão o mesmo parecer emitido
pelos protestantes: [...] “pediu-lhe Jesus que tomasse a seus cuidados a Maria”
(p. 782). Ora, se já há até uma Bíblia católica “anotada [...] por eminentes
especialistas” (p. 1), aquiescendo à postura evangélica de não espiritualizar o
texto em questão, conferindo a Maria uma suposta maternidade que o contexto não
corrobora, certamente já passou da hora de parar com esse negócio de “provar
dentro da Bíblia” que Maria é nossa Mãe;
3.9. A maior das criaturas
Discorrendo sobre
Maria, asseverou o Vaticano II que ela foi [...] “exaltada [...] acima de todos
os homens e anjos” [...].[85] Mas os apologistas
norte-americanos já citados, Ankerberg e Weldon, refutam a essa alegada
exaltação que, segundo o catolicismo, Deus teria conferido a Maria:
Lucas relata um incidente interessante na vida de
Jesus. Com efeito, a História nos diz que, à parte de seu papel como portadora
e mãe do Messias, Maria não foi uma pessoa singular nem especialmente abençoada.
Na verdade, nas palavras de Jesus, observamos que, “pelo contrário”, aqueles
que obedecem a Deus são mais bem-aventurados do que se tivessem dado à luz a
Jesus. É quase como se Deus estivesse se dirigindo ao dogma católico: “...Uma
mulher, que estava entre a multidão, exclamou e disse-lhe: Bem-aventurada
aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram! Ele, porém, respondeu:
Antes, bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam! (Lucas
11. 27-28). Com freqüência, Jesus se referia a si mesmo como o ‘Filho do
homem’, mas nunca, como dizem os católicos, como o ‘Filho de Maria’ ”
(ANKERBERG e WELDON, 1997:66-72).
3.10. Cheia de graça
Diz mais o Vaticano
II: [...] “A Virgem de Nazaré é por ordem de Deus saudada pelo Anjo
anunciador como ‘cheia de graça’ (cf. Lc 1, 28)”.[86] E a
maior parte das Bíblias católicas, também verte este versículo (Lucas,
cap. 1. v.28) assim. Mas nem todos os clérigos da Igreja Romana
concordam que o anjo tenha chamado Maria de “cheia de graça”. Por exemplo,
tenho em meu poder um Novo Testamento de edição católica, publicado em
1969 sob o imprimatur do então Arcebispo Metropolitano de São Paulo e
Presidente da Comissão Central da CNBB, Angelo Cardeal Rossi, no qual Lucas,
cap. 1, v. 28 está traduzido assim: [...] “‘Alegra-te, muito favorecida’”
[...].[87] Aqui temos, portanto, clérigo contra clérigo. E de
que lado estará a razão? A maioria dos meus leitores, certamente não poderá se
posicionar eruditamente, por desconhecerem as línguas originais em que a Bíblia
foi escrita. Contudo, considero importante informar, que embora eu conheça o
Grego bíblico mui superficialmente, posso garantir que o Vaticano II
está forçando o texto em questão, a dizer o que não diz. E, para não ficar só
nas minhas palavras, informo que comigo estão renomados peritos bíblicos. Mas,
para não cansar o leitor com uma pilha de citações, convido-lhe a vir comigo, a
apreciar somente o parecer do Pastor Esequias Soares da Silva, profundo
conhecedor do Hebraico e do Grego. Ouçamo-lo:
A [...] expressão “cheia de graça” procede de um verbo
grego que significa “outorgar ou mostrar graça”. Sua tradução correta é
“agraciada, favorecida”, e não “cheia de graça”, como aparece nas versões
católicas da Bíblia. A tradução “cheia de graça” não resiste à exegese séria da
Bíblia sendo contrária ao contexto bíblico e teológico. Mais uma vez, revela-se
a tentativa de divinizar Maria (SILVA, 2006:43, op. cit.).
3.11. Perpetuamente virgem
É sabido que uma
das crenças católicas é que Maria, embora casada com José, nunca se relacionou
sexualmente; antes, manteve-se virgem durante todo o curso de sua estada neste
mundo. Quanto aos irmãos de Jesus, mencionados em Mateus, cap. 12. vv.
46-50; 13, vv. 55-56; Marcos, cap. 6, v. 3; João, cap. 2, v. 12;
7, vv. 3-5, etc., os teólogos católicos crêem, diferentemente dos protestantes,
que são primos do Senhor, e não filhos de Maria: “No hebraico e aramaico não há
palavra própria para designar os primos, que são simplesmente chamados
‘irmãos’”.[88] Maria teria tido, pois, um só filho: Jesus (Bíblia
Apologética, op. cit., p. 1064). Ademais, registramos no capítulo I (1.6.2)
que, segundo a Teologia católica, Maria permaneceu “virgem no parto” [...], isto
é, seu hímen não se rompeu quando ela deu à luz Jesus: [...] “seu Filho
primogênito [...] não lhe violou, mas sagrou a integridade virginal” (Compêndio
do Vaticano II, op. cit., p. 106). Essa mesma crença é esposada pelo Padre
Prada: "Estando a Virgem no estábulo de Belém, saiu dela como um raio de
sol, sem manchar ou romper o cristal de sua pureza, o Filho divino que ela
carregara em seu seio" (PRADA, Francisco. Novenário. São Paulo: A M
Edições. 3 ed. 1996, p. 66).
Essa crença tornou-se conhecida pelo nome de
“nascimento virginal”. Mas os Pastores protestantes Claudionor Corrêa de
Andrade e Esequias Soares da Silva, refutando essas doutrinas (“virgindade
perpétua de Maria” e “nascimento virginal de Jesus”), contra-argumentam de
maneira irrefutável:
a) Pastor ANDRADE:
[...] “não houve o que se convencionou chamar de
nascimento virginal; o que realmente se deu foi o mistério da concepção
virginal [...].
Maria, como todas as demais mulheres, sentiu as dores
de parto ao dar à luz a Cristo; e, Jesus, à nossa semelhança, deixou o ventre
materno, natural e não sobrenaturalmente, ao nascer em Belém de Judá. [89]
Pastor SILVA:
A Bíblia declara com todas as letras que José não a
conheceu até o nascimento de Jesus (Mt 1.25). Os irmãos e irmãs de Jesus
são mencionados nos evangelhos, alguns são chamados por seus nomes: Tiago,
José, Simão e Judas (Mt 13. 55; Mc 6.3). Veja ainda Mt 12. 47 e Jo 7. 3-5.
Afirmar que “irmãos”, aqui, significa “primos” é uma exegese ruim e
contraria todo o pensamento bíblico (SILVA, 2006:44, op. cit. Os itálicos são
nossos).
De acordo com o
catecismo católico Verdade e Vida, retro-citado , “Jesus é o único filho
de Maria mostrado ainda pela designação enfática (com o artigo), ‘O filho de
Maria’ (Mc 6, 3)” (Verdade e Vida, 1986:30, op. cit., grifo no
original). Quer-se dizer com isso que o fato de Jesus ser chamado de o
filho, e não de um filho ou um dos filhos, prova que Ele é filho
único. Porém, os protestantes contra-argumentam mais ou menos assim:
Em Gálatas, cap. 1, v.19, Tiago é chamado, no
original, de “o irmão do Senhor”. Como neste caso também há o artigo no
original, raciocinemos: Se o artigo definido, precedendo o substantivo “filho”,
constante de Marcos, cap. 6, v. 3, servisse para provar que Jesus era
filho único de Maria, certamente provaria também que Tiago era seu único irmão.
Ora, filho único não tem irmão. E, considerando que o clero católico prega que
os irmãos de Jesus mencionados em Mateus, cap. 13, v. 55 são seus
primos, teríamos que concluir que a Bíblia é contraditória. Sim, pois
poderíamos dizer que ela diz em Mateus, cap. 13, v. 55 que Jesus tinha
quatro primos (e Tiago seria um dos tais), e, contraditoriamente, que Tiago era
seu único primo. Afinal, Tiago era o único irmão de Jesus, ou seu único primo?
Se os clérigos católicos disserem que era seu único primo, ver-se-ão em apuros
com Mateus, cap. 13, v. 55, visto dizerem que “os irmãos” aqui aludidos
são primos. E se disserem que era seu único irmão, lá se vai a suposta
virgindade de Maria, pois que então Jesus teria um irmão (SANTANA, 2002:43, op.
cit., com adaptação).
Há sólida base
teológica para se crer na eterna virgindade de Maria? Esta pergunta recebe uma
resposta negativa por parte dos teólogos protestantes; já os teólogos católicos
a respondem positivamente, pois dispõem, conforme crêem, de duas fontes
inteiramente confiáveis: os santos Padres e a infalível Igreja: “São Mateus
afirma a Virgindade de Maria antes do parto. Que ela o tenha sido no parto e
depois do parto, no-lo afirmam os Santos Padres e, infalivelmente, a Igreja”.[90]
Sim, essa doutrina é confirmada pelos Santos Padres; infalíveis
papas; e inúmeros bispos em comunhão com o Papa (o que os torna tão infalíveis
quanto o Papa). E, como se tudo isso não bastasse, dois Doutores da Igreja, a
saber, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, ensinaram essa que, segundo
pregam os chefes dos católicos, é uma verdade de fé católica, e até
citam a Bíblia, intuindo provar que não são hereges. Sim, o Doutor
Angélico ratificou o que escrevera o Bispo de Hipona, numa explanação de Ezequiel,
cap. 44, v. 2, o seguinte:
Que significa a porta fechada na Casa do Senhor, senão
que Maria sempre será intacta? E que significa a expressão “nenhum homem
passará por ela”, senão que José não a conhecerá? E “só o Senhor entrará e
sairá por ela”, senão que o Espírito Santo a fecundará e dela nascerá o Senhor
dos anjos? E que significa “estará eternamente fechada”, senão que Maria será
virgem antes, durante e depois do parto? (Suma Teológica, pág. 3746)
(GONÇALVES. “A verdade sobre Maria mãe de Jesus”. p. 20-25, op. cit.).
Como vimos,
enquanto apreciávamos o parecer do Pastor Silva, um dos argumentos protestantes
contra a teoria da perpétua virgindade de Maria defendida pelos católicos, é o fato
de a Bíblia dizer que José “não a conheceu até que ela deu à luz seu filho, o
primogênito” (Mateus, cap. 1. v. 25). Crêem os evangélicos que a
preposição “até”, constante do texto em lide, à luz do contexto remoto prova
[...] “que depois do nascimento de Jesus, José e Maria tiveram uma vida
conjugal normal, como qualquer outro casal” (Bíblia Apologética,
2000:1043, op. cit.). E acrescentam que [...] “nenhum autor do Novo Testamento
ensina a doutrina da virgindade perpétua de Maria” (Ibidem. Grifo no original).
Mas os clérigos católicos retrucam dizendo que a preposição em questão [...]
“tem peculiaridade semítica em sua linguagem, designando apenas o que se deu
(ou não se deu) no passado, sem aludir-se ao que haveria de acontecer no
futuro” (Bíblia Apologética, 2000:1043, op. cit..). Com isso querem
dizer que o versículo ora considerado, garante apenas que José e Maria não
praticaram o coito antes do nascimento de Jesus. Quanto a se após o parto,
Maria manteve ou não um relacionamento conjugal normal, com seu marido, a
Bíblia silencia, dizem eles.
Os evangélicos
crêem que as passagens bíblicas que chamam a Jesus de filho primogênito de
Maria (Mateus, cap. 1, v. 25; Lucas, cap. 2, v. 7; 23), à luz do
contexto remoto também testificam contra a teoria da virgindade perpétua de
Maria, defendida pelos clérigos católicos. Mas estes rebatem dizendo que “o
termo primogênito não significa que a mãe de Jesus tenha tido outros filhos
após Ele” (Ibidem, p. 1135. Grifo no original).
Como refutar tudo
isso? Assim: Segundo a Bíblia, o marido e a mulher têm o dever recíproco
de pagarem a devida benevolência (1 Coríntios, cap. 7, vv. 3-5), isto é,
a obrigação de se entregarem mutuamente à prática do coito. Teriam José e Maria
transgredido este mandamento de Deus? Em caso de uma resposta positiva por
parte dos católicos, lhes formulamos as seguintes perguntas: Afinal, José e
Maria eram santos, ou obstinados pecadores? Maria foi um exemplo a ser seguido
por todas as mulheres casadas, ou uma relapsa? Ah!, eles fizeram voto de se
doarem exclusivamente a Deus? Sendo assim, por que se casaram? De acordo com a
Bíblia, os que querem se manter virgem para sempre, não devem se casar (1
Coríntios, cap. 7 vv. 1, 8-9, 26-28, 38). Aliás, nada mais óbvio. Logo,
José e Maria certamente sabiam disso. Por que os padres e as freiras não se
inspiram no exemplo de José e Maria, e se casem? Não fizeram ambos, tais quais
José e Maria (segundo crêem), o voto de castidade? Ah! Eles doaram suas
virgindades a Deus porque queriam dispor de mais tempo para servirem ao Senhor?
Se sim, deveriam permanecer solteiros, visto que, casando-se, teriam que um
cuidar do outro e, deste modo, que tempo a mais dispunham? Ah! Casando-se com
José ela teria alguém que, passando-se por marido sem sê-lo da fato (mas apenas
de direito), cuidaria do menino Jesus? Lembrem-se, porém, que ela foi desposada
por José quando nenhum dos dois sabia ainda que Maria havia sido eleita pelo
SENHOR para ser a mãe do Messias (Mt 1. 18-25; Lc 1. 26-38). Os
evangélicos não cremos na perpétua virgindade de Maria, mas parece-me que se
nisso crêssemos, Deus não nos condenaria por um equívoco tão banal. Sim, porque
se José e Maria tinham ou não relações sexuais, que nos importa? Que tenho eu a
ver com isso? Porventura, crer que Maria era um ser humano normal, e que
portanto, mantinha relações sexuais com seu marido, tinha orgasmo e dava à luz
filhos, lhe tira o mérito? Há, porventura, qualquer impureza no ato sexual
dentro da moldura do casamento? Se sim, por que então, Deus, ao criar a
humanidade, macho e fêmea nos fez? E se não, por que então o clero católico faz
tanta tempestade em copo d’água? Com estes argumentos aquiescem todos os
evangélicos, segundo me consta. Porém, os católicos, por acreditarem que o Papa
é infalível, preferem seguir sua Santidade. E este é um direito que não lhes
pode ser negado.
Se José e Maria
tinham ou não relações sexuais, esta não é uma questão de vida ou morte, ou
seja, de salvação ou perdição. Este tema não é, sequer, digno de um debate
teológico (cf.: Romanos, cap. 14).
3.12. Estrela da Manhã e muito mais
Uma revista
oficial da Renovação Católica Carismática, publicou um artigo de autoria de
Murilo S. R. Krieger, arcebispo de Maringá/PR, que outorga a Maria os títulos
de Estrela da Manhã (a Bíblia confere este título a Jesus [Apocalipse,
cap. 22, v. 16]), Mãe dos viventes, Porta do céu, Glória de Jerusalém e
Tabernáculo da Aliança.[91]
No entanto, estamos cientes que os protestantes só a
reconhecem como mãe de Jesus. Em referência aos títulos que o catolicismo
tributa a Maria, o teólogo ARMANI comenta: “A Bíblia não oferece qualquer
sustentação teológica” [a essa] “exaltação e adoração de Maria que a Igreja
Católica ensina ao povo” (ARMANI, 2000:35).
NOTAS REFERENTES AO CAPÍTULO III
58 Catecismo da Igreja Católica. Op.
cit., p. 274.
59 MENEZES, Aldo dos Santos. Por que
abandonei as testemunhas de Jeová. São
Paulo: Vida, 2001, p. 347 (nota de rodapé).
60 LOPES, Hernandes Dias. O papado e o
Dogma de Maria. São Paulo: Hagnos.
2005, p. 97.
61 SILVA, Esequias Soares da. Lições
Bíblicas. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das
Assembléias de Deus (CPAD), Abr/jun. 2006, pp. 39-46.
62 Compêndio do Vaticano II. Op.
cit., pp. 103-104.
63 SANTOS, Flávia, et al. “Formas de
cultuar”. Revista das religiões. São Paulo: Abril,
mai. 2005, pp. 34-82.
64 Ibidem.
65 Ibidem.
66 Ibidem.
67 Ibidem.
68 Compêndio do Vaticano II. Op.
cit., p. 105, 107.
69 BETENCOURT, Estêvão Tavares. Crenças,
religiões, igrejas e seitas: quem são?
São Paulo: O Mensageiro de Santo Antônio, julho de 2003, p. 158.
70 Catecismo da igreja católica. Op.
cit., p. 255.
71 NEGROMONTE, Álvaro. O Caminho da Vida.
15 ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
1957, p. 240, grifo nosso.
72 Compêndio do vaticano ii. Op.
cit., p. 105, 107.
73 CESAR, Erlie Lenz. A Virgem Maria no
Contexto das Sagradas Escrituras. 2 ed. Rio
de Janeiro: Patmos, 2004, p. 28.
74 (PRADA, Francisco. Novenário, 3
ed. São Paulo: AM edições, 1996, p. 67. Grifo
nosso).
75 ZIGLIO, Anapaula. “Verdades de fé”. Revista
das Religiões. São Paulo: Abril, mai.
2005, pp. 28-29.
76 GONÇALVES, José. “A verdade sobre Maria
mãe de Jesus”. Resposta Fiel. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), 17, set/out/nov.
2005, pp. 20-25.
77 Catecismo da Igreja Católica. Op. cit., p. 273.
78 GONÇALVES, José. “A verdade sobre Maria mãe de Jesus”. Resposta Fiel.
Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), 17, set/out/nov.
2005, pp. 20-25.
79 CENTRO DE PESQUISAS RELIGIOSAS. “O dogma
da imaculada conceição de
Maria”. Teresópolis: 1996, p. 2-3 (Parênteses nossos).
80 Compêndio do Vaticano II. Op.
cit., p. 111.
81 Catecismo da Igreja Católica. Op.
cit., p. 273.
82 REIS, Aníbal Pereira. A virgem Maria.
São Paulo: Caminho de Damasco, 1999, pp.
54-58.
83 Compêndio do Vaticano II. Op.
cit., p. 104.
84 Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio
de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias da
Deus (CPAD), sexta impressão, 1998, pp. 1610-1611.
85 Compêndio do Vaticano II. Op.
cit., p. 111.
86 Ibidem, p. 105.
87 ROSSI, Ângelo Cardeal. “Novo Testamento”.
São Paulo: Herder, 1970, p. 77.
88 ARQUIDIOCESE MILITAR DE BRASÍLIA. Verdade
e vida. 4 ed. Brasília: 1986, p.
30.
89 ANDRADE, Claudionor Corrêa de. “Jesus
Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro
Deus”. Lições bíblicas. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias
de Deus
(CPAD),
set/out/nov/dez, 2006, pp. 17-24.
90 TINTORI, Euzébio. Novo testamento
comentado pelo Padre Euzébio Tintori. São
Paulo: Pia Sociedade de São Paulo. 1950, p. 10.
91 KRIEGER, Murilo S. R. “Maria: seu nome, seus títulos”.
Brasil Cristão. Campinas:
Associação do Senhor Jesus, 34, mai. 2000, p. 7.
CAPÍTULO IV
OUTRAS POLÊMICAS
SOBRE MARIA
4.1. Ela dormitou
Já informei nas páginas precedentes, que na The Catolic Enciclopedia,
não só consta que Maria realmente morreu, como também relata o porquê dessa
morte (para a nossa salvação), bem como a subseqüente ressurreição que, por sua
vez, seguiu-se de sua assunção ao céu. Contudo, este autor estaria sendo
inexato ou sonegando informação, se omitisse o que registrou o Pastor Erlie
Lenz César. Segundo ele, é crença católica que:
Maria [...] tendo sido [...] isenta do pecado original
não poderia morrer como qualquer ser humano comum. Assim Deus [...]
concedeu-lhe o privilégio da dormição, ou seja, ela não faleceu mas
dormiu para entrar na eternidade e depois de três dias deste sono bem
aventurado ascendeu aos céus (CESAR, 2004:72, op. cit, grifo no original).
O texto acima diz, que enquanto o corpo de Maria dormitava, sua alma se
encontrava no céu. Depois, quando sua alma foi reunida ao seu corpo, ela
despertou da dormição, e foi elevada ao céu. Por isso,
os católicos romanos celebram três festas em honra a
Maria: a primeira é a subida de sua alma, sem corpo, ao céu; a segunda é
quando, pouco tempo depois, o corpo e a alma se juntaram (ressurreição?) para a
subida ao céu; e a terceira é a sua coroação como Rainha dos Anjos e Senhora do
Universo (SENA NETO, 2004:67, op. cit.).
4.2. O transporte angelical da casa de Maria
Num contexto em que a depreciação é patente, disse o Pastor Ralph Woodrow, o
seguinte:
Os católicos acreditam que a casa na qual Maria viveu
em Nazaré está agora na cidadezinha de Loreto, na Itália, tendo sido
transportada para lá pelos anjos!
A The Catholic Enciclopedia diz: “Desde o século
quinze, e possivelmente até antes disto, a ‘Santa Casa’ de Loreto tem sido
enumerada entre os mais famosos santuários da Itália... O interior mede somente
9,40m por 3,90m. Um altar fica numa extremidade abaixo de uma estátua
enegrecida pelo tempo, da Virgem Mãe e seu Divino Infante... digna de veneração
em todo o mundo, por causa dos divinos mistérios realizados nela... Foi aqui
que a santíssima Maria, Mãe de Deus, nasceu; foi aqui que ela foi saudada pelo
Anjo; foi aqui que o Verbo eterno foi feito carne. Os anjos transportaram esta
Casa da Palestina para a cidadezinha de Tersato na Ilíria no ano da salvação de
1291 no pontificado de Nicolau IV. Três anos depois, no princípio do
pontificado de Bonifácio VIII, ela foi levada novamente pelo ministério dos
anjos e foi colocada em um bosque... onde tendo mudado sua estação três vezes
no decorrer de um ano, completamente, pela vontade de Deus ela tomou sua
posição permanente neste local... Que as tradições proclamadas assim, de
maneira rude, para o mundo tem sido plenamente sancionadas pela Santa
Sé, nem por um momento pode permanecer em dúvida. Mais de quarenta e sete papas
tem de várias maneiras prestado homenagens ao santuário, e um imenso número de
Bulas e Breves proclamam sem qualquer dúvida a identidade da Santa Casa
de Loreto com a da Santa Casa de Nazaré” (WOODROW, 1966:64-65, op. cit.,
citando a The catholic enciclopedia, v. XIII, p. 454, grifo no
original).
Sem comentário.
4.3. Maria versus serpente
Segundo a Bíblia,
Deus vaticinou que a cabeça da serpente estava fadada a ser ferida pela semente
da mulher: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua
semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis,
cap. 3, v. 15). Católicos e protestantes crêem que este texto é messiânico,
isto é, um vaticínio da vinda de Cristo ocorrida há dois mil anos: “Os cristãos
vêem nesta menção à descendência da mulher uma velada referência ao Messias na
sua luta contra Satanás e na sua vitória final sobre as forças do mal”.[92]
E há unanimidade (segundo me consta) entre os evangélicos, que, de acordo com
esta passagem bíblica, é a semente (neste caso, semente é o mesmo que descendente,
posteridade, filho) da mulher quem feriu a cabeça da serpente, isto é,
frustrou os planos de Satanás, derrotou o diabo, salvando os que crêem. Mas os
católicos já não são tão coesos sobre isso: “Há pensadores católicos que dizem
que esta passagem refere-se a Maria, sua Imaculada Conceição e sua atuação na
obra da redenção” (Bíblia Apologética. 2000:13. Op. cit.). Realmente,
diz certo periódico católico: [...] “Maria, por fim, esmagará a cabeça da
serpente”.[93] E essa corrente teológica existente entre os
católicos, de que Maria é quem fere a cabeça da serpente, é oficial? Bem, o Vaticano
II, referindo-se a Maria, disse que ela [...] “é profeticamente esboçada na
promessa dada aos primeiros pais caídos no pecado, quando se fala da vitória
sobre a serpente (cf. Gn 3, 15)” (Compêndio do Vaticano II, op. cit., p.
105). Mas este texto, que me pareceu dúbio mesmo à luz do contexto, pode estar
apenas querendo dizer que foi previsto no Éden que de Maria nasceria o futuro
vencedor da serpente: Jesus. De fato, tenho uma Bíblia de versão católica que
traduz o versículo em questão, de modo a não deixar dúvida em qualquer leitor,
que o vencedor da serpente é Jesus: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar” [94] Há sob esta passagem bíblica, uma nota de
rodapé, fazendo a seguinte observação: “Esta: trata-se da posteridade da
mulher [...] Jesus Cristo [...].” (O grifo não é nosso). Isto significa que,
apesar de haver entre os católicos quem pense e diga que esmagar a cabeça da
serpente, é da competência de Maria, há, entretanto, renomados clérigos da
Igreja Romana, esposando um parecer teológico tal qual o nosso. Logo, os
católicos que de nós divergem, precisam refletir sobre isso.
4.4. As aparições de Maria
Sobre as supostas
aparições de Maira, veja as considerações abaixo:
A devoção a Maria acentuou-se consideravelmente a
partir de suas aparições em vários pontos do mundo que logo se transformaram em
santuários e lugares de peregrinação (CESAR, 2004:69, op. cit.). Entre as
muitas aparições de Maria, reconhecidas oficialmente pela Igreja Católica,
algumas são mais famosas, como, por exemplo, a de Lourdes, na França, em 1858;
e a de Fátima, em Portugal, em 1917 (Ibid.).
Os evangélicos,
por acreditarem que Maria faleceu no século I, inferem que contatá-la
transgride Deuteronômio, cap. 18, v. 11, que proíbe a consulta aos
mortos. O repúdio evangélico pelas alegadas aparições de Mara, é notório e
indisfarçável. O supracitado ex-Padre Aníbal até escreveu um livro para tratar
especificamente das “aparições” de Maria em Fátima/Portugal. Seu título é: Outro
Conto do Vigário: a Senhora de Fátima, publicado pela editora Caminho de
Damasco. Este título, por si só demonstra o desdém do autor por essa
crença.
4.5. Maria – vestida do sol e coroada
Apocalipse,
cap. 12, vv. 1-17 nos fala de uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo de
seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. Alguns católicos
interpretam que essa mulher é Maria. Referindo-se a essa crença, disse o Pastor
COSTA: “A interpretação não é das mais felizes” (COSTA, 2004:143, op. cit.). A
seguir, Costa registra que a Bíblia de Jerusalém (de versão católica),
embora diga que “É possível que João pense também em Maria” (Ibidem, p. 144),
afirma com segurança: “Ela representa o povo santo dos tempos messiânicos (Is
54; 60; 66. 7; Mq 4. 9-10), e, portanto, a Igreja em luta” (Ibidem, p. 144).
Ademais, COSTA nos fala dos comentários de uma Bíblia católica, Edição
Ecumênica, traduzida pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo, editada pela
BARSA em 1964, com notas explicativas de autoria do Monsenhor José Alberto L.
de Castro Pinto, então Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, e, portanto, aprovada
pela Igreja Católica, que comenta Apocalipse, cap. 12, v. 1, assim:
[...] “Não é símbolo da SS. Virgem, mas sim, do povo de Deus, primeiro, Israel,
que deu ao mundo Jesus Cristo segundo a carne e depois o ‘Israel de Deus’, isto
é, a Igreja’ [...]. Por acomodação a Igreja aplica este versículo à SS. Virgem”
(Ibidem, p. 146).
4.6. Odiada pelos evangélicos?!
Os muitos e acirrados debates entre católicos e protestantes sobre a mãe de
Jesus Cristo, têm gerado muitos preconceitos e não pouca animosidade de ambos
os lados.
Registramos na INTRODUÇÃO a este trabalho, que há clérigos da Igreja Católica
insinuando que os evangélicos odeiam a Maria. E, mais inusitado ainda, há
evangélicos se auto-acusando quanto a isso. Vejamos as demonstrações destes
fatos:
4.6.1.
Parecer católico
Sabe-se que os evangélicos temos para com Maria inestimável apreço. Mas o fato
de não lhe tributarmos hiperdulia, leva inúmeros católicos a inferir que
odiamos a mãe de Jesus. Embora esse não seja o parecer da maioria dos
católicos, essa não tem sido a atitude apenas de leigos, mas também de
clérigos. Há clérigos insinuando que nós, os evangélicos, odiamos, negamos,
rejeitamos, denegrimos e insultamos a Maria. Até mesmo nossa inteligência já
foi posta em xeque. Vejamos, portanto, o que os Padre André Carbonera,
Battistini e Prada insinuaram, lendo suas respectivas afirmações:
Padre Carbonera:
Muitos
afirmam crer em Jesus, mas têm ódio da mãe do mesmo Jesus. Ah! eu adoro Jesus!
Tenho Jesus no coração. Jesus é meu tudo. Desconhecem, entretanto, negam,
rejeitam e insultam a mãe de Jesus. [...] Em nosso peregrinar terráqueo, quanto
mais pistolões houver, melhor! Por que jogar fora, então, os que pedem e rezam
por nós, bem pertinho de Deus e de Jesus, como Maria e os santos? Seria uma
inútil auto-suficiência e uma enorme burrice! [....]. [95]
Frei Battistini:
[...]
os que não gostam de Maria são mais perfeitos do que os anjos? [...] Os que não
amam [...] Maria estão contra a Bíblia [...]. Fulano diz que é seu amigo, mas
não gosta de sua mãe. Você o aceita como seu amigo? Os que não amam a Maria,
terão coragem de dizer a Jesus que o amam? [96]
Bem, Battistini disse os
que, sem determinar a quem se referia, mas deixou claro que tais odiosos
existem. E aí, parafraseando os apóstolos interrogo: "porventura, sou eu,
Battistini?".
Padre Prada:
O Padre Dom Francisco Prada também insinuou que nós, os evangélicos (por
crermos que Maria se relacionava sexualmente com o seu esposo José), somos
ignorantes e que denegrimos a mãe de Jesus. Disse ele: “Assim, aqueles que se prevalecem
do Evangelho para denegrir a Virgem Santíssima dão provas de ignorância...” (PRADA,
1996:66. Op. cit., reticência no original). Ele disse aqueles, sem
determinar a quem se referia, mas pareceu-me claro, à luz do contexto, que se
trata de uma refutação aos evangélicos. E disse mais: [...] “Nossa Senhora, tão
ultrajada pelo ódio dos ímpios e pela omissão e indiferença de
alguns que ainda se dizem cristãos”. (Ibidem, página 40, grifo
nosso). Ímpios que odeiam a Maria? A quem ele se referia? Seriam os
evangélicos? Bem, Prada crê que eles existem, mas (talvez por ser muito ético)
não quis identificá-los. E quais são os que, embora se dizendo cristãos, são omissos
e indiferentes para com Maria? Este mistério também não me parece indecifrável,
mas, como dizem, deixa p’ra lá.
4.6.2.
Opiniões protestantes
Há, entre os evangélicos, uma controvérsia quanto à legitimidade do tratamento
que dispensamos a Maria. Há os que dão as mãos à palmatória, bem como os que se
sentem caluniados. São dois pareceres diametralmente opostos. Ei-los:
A) Auto-acusação
Por mais incrível
que possa parecer, há evangélicos dizendo que tanto os católicos, quanto os
protestantes se equivocam no trato para com Maria. Dizem que os católicos foram
além do limite, e que os evangélicos estão aquém do devido. Chamam a isso de Maria
demais e Maria de menos, respectivamente.
Em defesa da tese
rotulada por alguns de Maria de menos, escreveu certo Pastor evangélico:
De uma forma geral, o povo evangélico menospreza
Maria. Nós temos de dar as mãos à palmatória, pois de uma forma geral, nós
evangélicos zombamos e ridicularizamos a figura de Maria [...]. Alguns
denominam uma de suas imagens de “pretinha”, maneira racista, discriminatória e
depreciativa de mencionar quem quer que seja! [97]
B) Auto-absolvição
Até o presente, só vimos três evangélicos esposarem a opinião exteriorizada
pelo Pastor Vieira: o próprio, e mais dois. Estes, pessoalmente; aquele,
através de seu livreto. A maioria esmagadora dos evangélicos, segundo
detectamos, destoa do Pastor Vieira, e aquiesce ao que registraram os Pastores
José Gonçalves e José Barbosa de Sena Neto, conforme exposto a seguir:
Pastor Gonçalves:
[...]
os evangélicos são constantemente acusados de não gostarem da mãe de Jesus. É
evidente que essa acusação é improcedente, o oposto dela é a verdade, pois os
evangélicos são os que realmente dão à mãe do Salvador o lugar que a ela é atribuído
pelas Escrituras.[98]
Pastor Sena Neto:
O ex-Padre
(atualmente Pastor evangélico) José Barbosa de Sena Neto tachou as crenças
católicas sobre Maria (que ela é digna de culto; sua imaculada concepção; sua
perpétua virgindade; sua ressurreição [?] e assunção ao céu em corpo e alma;
seus títulos: Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, Co-redentora, Mãe de Deus,
Mediadora, Advogada, Nova Eva, etc.) de “exagerada veneração a Maria,
endeusamento de Maria, sofisma, falta de senso, futilidade, falsa e sacrílega
doutrina, conto da carochinha, conto do vigário, grosseiras heresias...”
(SENA NETO: 2004:52-78. Op. cit.).
4.7. Maria e a água feita vinho
Por mais
incrível que possa parecer, já ouvi inúmeros católicos, tanto leigos quanto
clérigos, dizerem que o fato de Jesus efetuar o milagre da transformação da
água em vinho, após Maria lhe notificar que o vinho havia acabado (Jo 2.1-11),
justifica a devoção que eles têm para com ela. Dizem que o milagre da água
feita vinho em atenção ao seu pedido nas bodas de Caná da Galiléia, prova a
eficácia de seu múnus advocatício junto a Cristo, em prol dos seus devotos.
Todavia, os que lêem a Bíblia sabem que não só Maria, mas todos os que se
dirigiram a Cristo com fé, amor e humildade, foram por Ele socorridos (Mt 8.
2-3; 9. 1-8, 18-34; 15. 21-28, etc.). Até um bandido encontrou refúgio no meigo
Nazareno (Lc 23.43).
Certamente já está mais que claro que os evangélicos não negam que
podemos e devemos orar a Jesus. O que discutimos aqui, é se é certo ou não
invocar Maria. Os católicos dizem que sim, mas não dispõem de nenhuma prova
bíblica. Tudo se fundamenta apenas na tal de Tradição, assim como na palavra de
homens suficientemente megalomaníacos para arrogarem a si o título de
infalíveis. Estes, lançando mão de um texto que trata de um assunto, dizem que
o mesmo está dizendo o que eles bem querem que ele diga. Este é, por exemplo, o
caso de Jo 2.1-11. O fato de neste texto Maria aparecer intercedendo pelos
noivos (ao dizer a Jesus que o vinho havia acabado), e ter seu pedido atendido,
é, segundo o clero católico, mais uma evidência de que um pedido dela por nós é
tiro e queda. Textos assim são usados amiúde como prova de que Maria é a
verdadeira medianeira entre Deus e nós, nossa única advogada, a porta do Céu,
etc. E impetrando ais sobre os que deles discordam, dão o assunto por errado.
Afinal, o Papa é o cara. Ele é infalível. E, sendo assim, quem pode contestá-lo?
Jo
2.1-11, no máximo serve para provar que Jesus ouve as nossas orações, e que
devemos orar uns pelos outros.
É digno
de nota que quando Maria disse a Jesus “Não têm vinho” (Jo 2.3), Ele lhe disse:
“Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2.4).
Logo, não está Ele às ordens dela. E, posto que finalmente fez o milagre da
transformação da água em vinho, armemo-nos do pensamento de que Ele é
suficientemente misericordioso para nos socorrer, o que justifica perseverarmos
na oração a Ele. Imitando a Maria, levemos a Cristo nossas queixas. Certamente
Ele nos atenderá também. Isso, e mais nada.
NOTAS REFERENTES AO CAPÍTULO IV
92 SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. Bíblia de
Estudo Almeida. Barueri. 2000, p. 22.
93 VIANA, Maria Lúcia. “Maria, cheia de
graça”. Brasil Cristão. Campinas: Associação do Senhor Jesus. 22, mai.
1999, p. 12.
94 (Bíblia
Sagrada. São Paulo: Editora “Ave Maria” Lt.da. Traduzida pelo
Centro Bíblico Católico. 38 ed. 1982. Grifo nosso).
95 RINALDI, Natanael. “Odeiam os evangélicos
Maria, mãe de Jesus?” Defesa da Fé.
Jundiaí: Instituto Cristão de Pesquisas, 8, set/out. 1998, pp. 26-36, grifo
nosso.
96 BATTISTINI, Frei. A Igreja do Deus
Vivo. 33 ed. Petrópolis: Vozes, 2001, pp. 29-
30.
97 VIEIRA, José Jacó. Em Defesa da Virgem
Maria. Maringá: s.e. 1999, p. 13.
98 GONÇALVES, José. “A verdade sobre Maria
mãe de Jesus”. Resposta Fiel. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), 17, set/out/nov.
2005, pp. 20-25.
CONCLUSÃO
Obter e fornecer
informações sobre o marianismo, bem como acerca da acirrada polêmica que ,
entre católicos e protestantes, gira em torno deste tema, informações estas que
nos dessem base para posicionarmos a bel-prazer, mas com conhecimento de causa,
era o que pretendíamos quando nos lançamos às pesquisas de onde coletamos os
fragmentos que utilizamos na tecelagem do presente texto. E se, embora sem
esgotar o tema, galgamos esse patamar, então atingimos um de nossos alvos. E
sentir-me-ei bem retribuído, se destas páginas alguém haurir algum proveito
para a sua vida espiritual. Isso me fará sentir útil a Deus, ao próximo, à
Igreja... e, por conseguinte, me fará feliz. Não posso ser inútil e feliz,
concomitantemente.
Este livro é,
também, um desagravo à atitude irresponsável de clérigos maldosos que,
apostando na ingenuidade de seus liderados, inculcam-lhes que nós, os evangélicos,
odiamos a mãe de Jesus, para, deste modo, induzi-los à animosidade contra nós.
Deduzo que ficou claro ao leitor, que a verdade nua e crua é que a nossa
postura teológica acerca da irmã Maria, esposa do nosso prezado irmão José,
muito longe de ser um ato de burrice - como sem rodeios e sem pestanejar o
disse o Padre André Carbonera - , nada mais é que um retorno ao cristianismo
original.
Embora só o
primeiro capítulo se intitule O Culto a Maria, tratamos deste tema do
princípio ao fim deste opúsculo. Tal de dá porque cada um dos exageros que
constituem o marianismo, ou é culto a Maria, ou é um detalhe desse culto. E ver
o que a Bíblia e a História têm a dizer sobre tais exorbitâncias, é o que chamei
de O Culto a Maria à Luz da Bíblia e da História.
Empreendemos
prestar relevante trabalho a Deus, à humanidade, e em particular, aos sequiosos
pela verdade. E dando-o por encerrado, o disponibilizamos ao público ledor,
para que o julgue e lhe confira o Grau que lhe parecer justo. Com docilidade e
humildade prometemos apreciar as críticas construtivas oriundas dos sábios que
altruística e ousadamente ponderarem o conteúdo deste livro. Aliás, não só
apreciar, mas também acatar as novas idéias sugeridas, desde que deveras nos
pareçam convincentes. Não me envergonharei de me retratar, caso alguém me prove
à luz da Bíblia e da História, que minha pronunciação é inexata. Mas de modo
algum cederei a atitudes inquisitórias dos que, por não saberem respeitar a
opinião alheia, apelam para a baixaria, como é o caso dos que, perseguindo-nos,
se valem até de calúnias e termos de baixo calão, tachando-nos de burros que
odeiam e denigrem a mãe de Jesus, a quem amamos, veneramos, respeitamos e
esforçamos por imitar!
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Evangelística, 1966.
BÍBLIAS
DIVERSAS
As
obras abaixo compõem a Bibliografia:
Bíblia
Apologética. São Paulo: ICP Editora,
2000.
Bíblia
de Estudo Pentecostal. 6 ed. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias
da Deus (CPAD), 1998.
Bíblia
Sagrada. Centro Bíblico Católico. São
Paulo: Editora “Ave Maria” Lt.da
Bíblia
Sagrada. Revista e Corrigida.
Traduzida por João Ferreira de Almeida. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
Bíblia
Sagrada. Traduzida pelo Padre Antônio
Pereira de Figueiredo. São Paulo: Novo
Brasil Editora Ltda, s.d.
Bíblia
Sagrada. 9 ed. Traduzida pelo Padre
Matos Soares. São Paulo: Edições Paulinas,
1981.
Pr. Joel Santana
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